A França suspendeu a realização, dentro e fora do país, de qualquer evento cultural associado a instituições oficiais russas ou artistas russos que sejam a favor da invasão da Ucrânia, divulgou na quarta-feira a ministra da Cultura, Roselyne Bachelot.
A governante especificou que nenhum evento ligado a instituições culturais oficiais ou artistas “que se manifestaram a favor da política empreendida pela Rússia na Ucrânia” será bem-vindo.
A ministra acrescentou que os projetos de parceria entre instituições culturais russas e francesas, quer em França, quer na Rússia, estão “suspensas até novo aviso“.
“Estamos solidários com os artistas, profissionais da cultura e jornalistas ucranianos, duramente atingidos. Não esquecemos os dissidentes russos. Juntos, eles mantêm viva a democracia e a cultura todos os dias, fermento de paz e diálogo entre os povos”, sustentou.
Roselyne Bachelot avançou ainda com a criação de um fundo de apoio, de um milhão de euros, para “acompanhar as instituições culturais francesas que se organizam para permitir que artistas e profissionais da cultura continuem a trabalhar”.
Até agora, o cancelamento de eventos culturais em França com entidades ou artistas russos dependia de decisões individuais.
Também esta quarta-feira a Ópera de Paris referiu que não haverá novas colaborações com instituições culturais russas ou artistas que manifestaram publicamente o seu apoio ao regime.
Já o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) decidiu cancelar qualquer novo projeto com a Rússia e os atos científicos em que aquele país estaria envolvido.
“A ciência não tem fronteiras, mas os valores que todas as comunidades científicas defendem e partilham não podem tolerar esta guerra”, referiu aquela instituição em comunicado, demonstrando também abertura para acolher cientistas ucranianos.
Estas decisões seguem-se na linha daquela tomada pelo Festival de Cannes, que anunciou que na sua edição de 2022, agendada entre 17 e 28 de maio, serão vetadas delegações oficiais russas ou pessoas ligadas ao regime de Vladimir Putin.
Embora o festival não tenha referido expressamente um possível veto de filmes russos da sua seleção oficial, esclareceu que a decisão estará em vigor a não ser que a guerra termine “em condições que satisfaçam a população ucraniana”.
Também o Museu de Cera Grévin anunciou na terça-feira a remoção da estátua do Presidente russo, Vladimir Putin, enquanto o Teatro Champs-Elysées cancelou esta quarta-feira o recital do pianista russo e embaixador da UNESCO, Denis Matsuev.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de 100 mil deslocados e pelo menos 836 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.