José Mateus, que presidiu primeiro a extinta Freguesia de Santiago e agora está à frente da União das Freguesias de Tavira (Santa Maria e Santiago), assume como grande prioridade a proximidade com a população, sobretudo a mais desfavorecida.
Em entrevista, o autarca revela ao POSTAL o trabalho que tem estado a ser feito no combate à pandemia. Um trabalho hercúleo, que tem contado com a preciosa ajuda de todos e que leva uma inestimável ajuda àqueles que vivem mais distantes e desprotegidos. José Mateus realça a ajuda e espírito solidário de quem se uniu a esta causa e tem contribuído, seja com alimentos, outros bens, monetariamente, ou simplesmente com o seu trabalho. Para o autarca “está a ser gratificante ver tanta solidariedade, tanta gente de coração grande”.
P – De que forma respondeu a União das Freguesias de Tavira à crise pandémica, na sua fase inicial e que medidas foi tomando conforme o seu desenvolvimento, no apoio à população?
R – A União das Freguesias de Tavira (Santa Maria e Santiago), desde o primeiro momento, ao tomar consciência da gravidade da situação, a primeira medida que tomou foi criar um plano de contingência e dessa maneira proteger tanto os funcionários como os nossos fregueses, tanto na sede, onde fizemos questão de nunca deixar de fazer atendimento presencial, embora claro com as devidas cautelas, fazendo-o à porta, da mesma forma no posto dos CTT, como no armazém onde se concentra a equipa de exterior. Depois, fomos naturalmente adaptando às várias medidas decretadas pelo Governo e quando iniciou o primeiro confinamento tomámos todas as medidas que se nos afiguraram necessárias para ajudar a nossa população, pensando principalmente nos mais vulneráveis, que são os idosos, muitos sem suporte familiar e a viver em solidão; os doentes crónicos, os contagiados pela covid-19, mas de um modo geral todos os que nos pediam as mais diversas ajudas, e daí nasceu a criação de várias equipas, umas formadas pelos nossos próprios funcionários, outra pelas técnicas do projeto Lado a Lado da Associação em Contacto, uma equipa de jovens voluntários do movimento “vizinho amigo” que se disponibilizou para o efeito, uma equipa do Agrupamento 100 de Tavira do Corpo Nacional de Escutas, e ainda várias pessoas, muitas delas utentes do projeto Lado a Lado e outras que individualmente se ofereceram para nas suas casas fazerem máscaras de pano, tendo nós comprado dezenas de metros de tecido, que foram feitas e posteriormente distribuídas largas centenas de máscaras. Todas estas equipas foram coordenadas pela equipa técnica do Lado a Lado e pelos elementos do executivo, e posso dizer que foi e é da parte de todos os envolvidos um trabalho hercúleo, que deu e está a dar a todos, com toda a certeza, um enorme sentimento de felicidade e gratidão.
P – Também contou com a solidariedade da população…
R – Também houve muita sensibilidade da parte da população. Um snack-bar, durante todo o primeiro confinamento, ofereceu-nos quase diariamente 10/15 refeições quentes, outros pediam-nos para indicar pessoas e eles entregavam diretamente, pessoas que nos entregavam 3/4 sopas, a igreja Maná que nos entregou vários sacos de alimentos, a Associação dos Franceses Residentes em Tavira que nos entregou um valor monetário de algum significado e que serviu para ajudar muitas pessoas que não conseguiam pagar a água e/ou a luz ou medicamentos, os mesmos têm-nos também entregue vários sacos de compras de supermercado. Ultimamente, também os comerciantes/agricultores que vendem no mercado municipal se uniram à causa, e com a liderança de um deles todos colaboram fazendo semanalmente 6/7 cabazes de produtos que são entregues por nós a famílias que sabemos necessitarem e, em cada semana, a famílias diferentes. Houve também pessoas que nos doaram computadores que entregámos a crianças de famílias que não os podiam comprar, enfim, foi e está a ser gratificante ver tanta solidariedade, tanta gente de coração grande. Bem hajam todos!
“Gostaria de realçar todos os gestos de amor que têm sido dados pelos nossos cidadãos”
P – A Junta limitava-se a encaminhar as pessoas afetadas ou em situação de carência para as instituições adequadas, como os hospitais, lares e misericórdias, ou algo mais?
R – Perante tantas solicitações que nos chegavam, a Junta de Freguesia não se limitou a encaminhar as pessoas afetadas e durante todo este período de pandemia realiza visitas domiciliárias dentro das recomendações da DGS, com o objetivo de apoiar e orientar os idosos e pessoas extremamente vulneráveis, sem retaguarda familiar, na toma dos medicamentos, medição da pressão arterial, marcação de consultas e acompanhamento médico urgente, para que não deixem de ter os cuidados de saúde necessários, sendo a proximidade com estas pessoas tão grande, que inclusive, já por duas vezes aconteceu telefonarem para uma das pessoas que faz este trabalho, para que chamasse o INEM, pois o familiar estava caído. Aqui realço, a boa parceria com o Centro de Saúde de Tavira, onde os seus profissionais sempre mostraram grande espírito de entreajuda ao aceitarem que façamos a ponte com estes doentes e também no envio de receitas que previamente pedimos por e-mail, evitando assim que se desloquem ao Centro de Saúde.
Outra boa parceria, é com a farmácia do Hospital de Faro, em que os seus profissionais desde a primeira hora nos permitem que façamos os pedidos de medicamentos dos doentes crónicos, e com os Bombeiros Municipais de Tavira, que nas deslocações que fazem com frequência a Faro vão à farmácia levantar os mesmos, depois nós vamos buscá-los e entregá-los às pessoas, evitando-se, assim, que estes doentes de risco se desloquem sem outra necessidade que apenas levantar os seus medicamentos.
Gostaria de realçar todos os gestos de amor que têm sido dados pelos nossos cidadãos, do mais simples como doar uma sopa, a qualquer outro que possa ter um maior impacto. São todos gestos muito nobres, de grande espírito solidário. Também realço todas as entidades que formam a proteção civil, que ao longo de todo este tempo têm mostrado uma competência e profissionalismo enormes. Os profissionais de saúde, desde auxiliares, administrativos, enfermeiros, médicos, todos sem exceção, têm mostrado ser de uma bravura e competência simplesmente notáveis.
Por fim, não podia deixar de realçar o enormíssimo apoio que o Município de Tavira, através da sua presidente Drª Ana Paula Martins, disponibilizou aos seus cidadãos, de certeza só possível pela competência de ter as contas em ordem. Bem hajam todos e continuamos disponíveis para levar este espírito até ao fim desta pandemia que desejamos termine rapidamente.
“O nosso foco é o bem-estar da nossa população, a sua qualidade de vida e a boa imagem da nossa freguesia”
P – Muitas pessoas não sabem, mas é a Junta que assegura parte do serviço dos CTT na sua freguesia. Que tipo de protocolo fez com a administração dos Correios? Qual o grau de eficácia e de satisfação do serviço?
R – O Posto CTT de Santa Maria-Tavira teve origem numa parceria estabelecida entre a extinta freguesia de Santa Maria e os CTT – Correios de Portugal e foi inaugurado a 8 de dezembro de 2004 com o objetivo principal de contribuir para uma melhoria significativa no acesso da população aos serviços CTT, oferecendo um serviço de proximidade, confiança e eficiência ao agilizar as tarefas inerentes aos serviços oferecidos pelos CTT – Correios de Portugal.
Esta colaboração, que tem visado uma melhoria constante dos serviços prestados, embora acarrete um custo bastante elevado à Junta de Freguesia para a eficaz manutenção do posto, dispõe diariamente de duas trabalhadoras do mapa de pessoal da Junta, para atendimento à população e gestão do posto. É uma mais valia por contribuir para uma melhoria na qualidade de vida da população. Estamos, contudo, neste momento, a aguardar uma melhoria neste contrato.
P – No âmbito dos serviços prestados por uma Junta de Freguesia, é fundamental um trabalho de proximidade dos funcionários e a população. Como classifica esta relação dos serviços da Junta e das pessoas que lá trabalham com os utentes em geral? Há alguém que merece ser destacado na prestação destes serviços de proximidade?
R – Desde que estou à frente dos destinos, primeiramente da extinta Freguesia de Santiago e a seguir da União das Freguesias de Tavira (Santa Maria e Santiago), que uma das minhas preocupações e exigência é um bom atendimento ao público, nomeadamente aos nossos fregueses, e mesmo em situações que não sejam da nossa competência mas que haja condições para ajudar, pois esse é o trabalho de proximidade que se pretende das freguesias. O que efetivamente aqui acontece, ainda mais neste contexto de pandemia, onde muitos serviços públicos estão em teletrabalho e onde há dificuldade por parte das pessoas em fazer marcações para esses serviços, pelo que recorrem a nós para esse efeito, mas mesmo antes da pandemia em inúmeras situações, estamos sempre disponíveis para apoiar quem precisa.
Não é só neste aspeto que a proximidade é importante, sendo o nosso foco o bem-estar da nossa população, a sua qualidade de vida e a boa imagem da nossa freguesia, para que tudo isto aconteça é preciso muito trabalho e dedicação, estar atento a novas necessidades, ter novas ideias, manter o foco. Portanto, esta é a nossa dinâmica e como a dimensão da freguesia em termos populacionais ou territoriais permite-nos ter dois elementos a tempo inteiro, neste caso eu e o secretário Sérgio Pereira, com a ajuda do restante e não menos competente executivo, permite-nos ter uma verdadeira equipa em que todos estamos empenhados em fazer o bem e em fazer o melhor, pois estamos perante uma freguesia com alguma dimensão, onde temos uma área de cerca de 170 km2, mais de 15.000 habitantes, 30 funcionários entre efetivos, a contrato e de programas ocupacionais, 17 viaturas entre ligeiras e pesadas, e portanto, só com muito trabalho e empenho de todos, onde se pede que cada um seja competente e faça o seu trabalho, tanto funcionários como executivo, sem deixar de fora o aspeto cidadania que todos nós devemos ter, dizendo o que está bem, o que podia estar melhor, o que eventualmente está mal, para assim conseguirmos ter uma freguesia cuidada, onde cada um sinta vontade de viver.
Além da parte social que já falei, sobretudo no contexto de pandemia, não posso deixar de falar no projeto Lado a Lado, que nasceu comigo ainda na Freguesia de Santiago e que tem evoluído bastante, cujo mérito é sobretudo das suas técnicas, mas também de todos os envolvidos sem esquecer os importantes apoios da câmara e da freguesia, mas que desde o primeiro confinamento está suspenso. Portanto, esta é uma saudação muito particular para todos os utentes, e deixo aqui uma palavra de esperança, na certeza de que assim que possível voltaremos e mais fortes, pois este é um projeto ganhador, um projeto de enorme futuro.
Quero ainda referir a proximidade com as dezenas de clubes, associações e outras entidades, quer do âmbito desportivo, cultural, de lazer, religioso ou beneficência, que sempre contaram e contam com o nosso apoio, tanto monetário como logístico sempre que possível, e com quem ao longo destes anos temos efetuado alguma profícuas parcerias e um bom trabalho de entreajuda.