O povo, na sua imensa sabedoria, diz que a verdade acaba sempre por vir ao de cima como o azeite. E isso vale também para o recambolesco episódio de Portimão que vai marcando a atualidade política algarvia.
Dir-se-à que esse caso e todas as incidências que o acompanharam só dirá respeito a quem lhes possa servir a carapuça. Trata-se de uma verdade apenas em parte, e só assim seria se o processo em causa, entre avanços e recuos, desmentidos e outros contorcionismos, não pudesse ter contribuído, como contribuiu, para agravar desconfianças e danos colaterais no prestígio e na credibilidade dos partidos políticos e seus agentes, mais do que já se conhece.
Não se pretende aqui tomar a parte pelo todo, porque a atividade política sendo um exercício nobre ao serviço da comunidade, tem a seu lado um exército de gente boa, séria e dedicada à causa pública, onde se integra a grande maioria dos autarcas, com as excepções existentes para confirmar a regra. Como em todas as áreas e actividades profissionais.
E num momento em que cresce o escrutínio público sobre a idoneidade dos políticos, impõe-se, por isso, cada vez mais, uma maior intransigência crítica relativamente a todos os casos que direta ou indiretamente possam contribuir para elevar o clima de suspeição e assim minar os alicerces de confiança das pessoas na democracia e nos seus eleitos.
São sobejamente conhecidas as técnicas de apontar o dedo, ferir ou tentar ‘matar’ o mensageiro, perante uma notícia desagradável de que este possa ser portador
É, portanto, um assunto que não diz respeito apenas a quem está na política e nos partidos, devendo envolver igualmente todos os cidadãos empenhados na construção de uma sociedade mais transparente e na defesa e valorização do sistema democrático. Onde os órgãos de comunicação social têm um papel fundamental e insubstituível, do qual não se podem demitir e de nenhuma forma devem permitir deixar-se intimidar.
Neste aspeto, é bom salientar que é antiga a relação nem sempre pacífica – não raras vezes conflituosa – entre jornalistas e políticos. São do domínio público e sobejamente conhecidas as técnicas de apontar o dedo, ferir ou tentar ‘matar’ o mensageiro, perante uma notícia desagradável de que este possa ser portador. É uma prática velha – da antiguidade clássica e da idade média – que teima em prolongar-se no tempo e que não acaba aqui.
Vale a pena terminar, citando uma frase de uma personalidade cujo perfil moral e autoridade política, o Algarve e o país se habituou a admirar. A propósito de atos políticos que considerou censuráveis, o Dr. Francisco Amaral lançou, com todo o sentido de oportunidade, o seu grito de alerta que soou como um terramoto e do qual, a partir desta tribuna, fazemos eco: “É preciso credibilizar a política”.