“A fusão do Hospital de Portimão com o Hospital de Faro, com a consequente criação do Centro Hospitalar do Algarve [CHA], foi um erro grave que urge corrigir”. Foi desta forma que Isilda Gomes reagiu, através de uma publicação na sua página de facebook, às imagens transmitidas pela SIC na passada semana, que davam conta da falta de recursos humanos e materiais no Hospital de Portimão, relançando o debate que tem sido polémico na região nos últimos anos.
Em declarações ao POSTAL, a autarca vai mais longe e garante que “a destruição da capacidade de resposta dos dois hospitais” é da total responsabilidade do anterior Governo e da anterior administração, que decidiu fazer a junção, momento a partir do qual “as coisas nunca mais correram bem”, diz.
Ainda na sequência das imagens captadas em vídeo amador, que denunciam a falta de profissionais e de roupa para os pacientes – alguns deles internados em macas ou cadeirões -, ou ainda a falta de copos de água, que são substituídos por recipientes de recolha de urina, a presidente da Câmara de Portimão garante estar a par da realidade mas admite que “não fazia ideia de que a situação fosse tão grave”.
Isilda Gomes adianta que o ministro da saúde lhe garantiu uma tomada de decisão sobre a actual situação do CHA até ao final de 2016, decisão essa que espera que passe pela separação dos hospitais, que “pelo menos abrirá o caminho para que a solução dos serviços de saúde seja mais viável e mais rápida”, diz.
Deputados algarvios preocupados com o estado da saúde
Para os deputados eleitos pelo Algarve, mais do que a situação do CHA, a falta de investimento e a dificuldade em manter profissionais na região são problemas primários.
Na óptica de Cristóvão Norte, deputado eleito pelo PSD, “o Centro Hospitalar do Algarve não é o problema determinante e a sua eventual separação não vai resolver o âmago das questões estruturais da saúde no Algarve, que se têm vindo a agudizar ao longo dos anos”, diz.
Paulo Sá, do PCP, entende que “a melhoria desta qualidade dos serviços passa pela reversão do Centro Hospitalar” mas que também “é preciso dotar os hospitais de financiamento adequado para poderem cumprir cabalmente a sua missão”.
António Eusébio acrescenta que, “independentemente de a gestão ser feita por uma ou por duas administrações, vai levar muitos anos até serem ultrapassados os constrangimentos provocados pelo desinvestimento anterior”.
Na opinião do deputado do PS, os problemas no CHA arrastam-se desde a sua fundação. “Não posso afirmar que foi um erro mas sempre vi esta criação com muitas reticências, uma vez que surgiu através de uma decisão tomada de forma apressada, sem consulta dos profissionais de saúde, das instituições ou das autarquias”, aponta.
Quem sempre esteve “contra a criação” do CHA foi João Vasconcelos, que considera que “o caminho certo é dissolver a fusão dos hospitais”.
Taxativo, o deputado do Bloco de Esquerda apela: “Que se demita a administração, que se dissolva o Centro Hospitalar do Algarve e que se criem as condições necessárias para que os dois hospitais prossigam com as condições necessárias”.
Para o CDS-PP, “esta é uma situação de ruptura que está a assumir proporções nunca antes vistas”. Nas palavras da deputada Teresa Caeiro, “impõem-se decisões e não há justificação para não se conseguir fixar profissionais no Algarve. Com uma boa administração e uma boa organização e com os meios necessários e exigíveis, espero que seja possível prestar os cuidados de qualidade aos utentes, e não degradantes, como temos assistido”, refere.
Faro de fora
Paulo Sá reforça que “é necessário financiar os hospitais algarvios para que eles possam remodelar e adquirir novos equipamentos e fazer a manutenção dos actuais, para além da construção do novo edifício do Hospital Distrital do Algarve”.
Uma realidade longínqua e bastante protestada por Cristóvão Norte, que lembra o estudo encomendado pelo Governo em 2006, que colocava o Hospital do Algarve no segundo lugar da lista de prioridades de novos hospitais, e que ficou de fora da proposta de lei do Orçamento do Estado para 2017.
“O Hospital do Algarve é uma infra-estrutura crucial para a região, para o desenvolvimento económico e social e para a prestação de cuidados de saúde”, refere.
Recorde-se que o CHA entrou formalmente em funcionamento a 1 Julho de 2013, ficando com a competência de gestão dos hospitais públicos do Algarve, na sequência da extinção do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio e do Hospital de Faro.
“Pela melhoria dos cuidados de saúde no Hospital de Portimão”, um grupo de cidadão vai manifestar-se, este sábado, pelas 15 horas, em frente àquela unidade hospitalar.
(Com Henrique Dias Freire)