Uma especialista em agronomia defendeu hoje que o eucalipto, espécie florestal com maior área em Portugal, pode ser afectado pela falta de água devido às alterações climáticas e, em casos graves, a redução de crescimento pode chegar a 20%.
“Temos de equacionar a questão das mudanças climáticas que não podemos ignorar quer para o eucalipto, quer para o resto da floresta” e, nesta espécie, “tem uma importância muito mais a curto prazo porque os ciclos de produção são curtos e haver secas, surtos de temperatura muito elevados, pode fazer reduzir o crescimento das florestas, dos eucaliptais”, disse Helena Pereira.
A coordenadora do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia (ISA) salientou que, “depende do evento e da sua intensidade, mas em casos graves pode ir até reduções de crescimento de 10 a 20%”.
A professora do ISA falava à Lusa a propósito da realização de um seminário sobre “Eucalipto – Produção e Ambiente”, que hoje decorre em Lisboa, iniciativa integrada no ciclo “Da Investigação à Aplicação”, com o objectivo de apresentar o trabalho do Centro de Estudos Florestais, não só para conhecer melhor as espécies florestais, mas também para encontrar formas de aproveitar as suas características.
Eucalipto é eficiente a utilizar a água disponível
Questionada acerca da relação dos eucaliptos com outras plantas na gestão da água quando esta rareia, Helena Pereira disse que, “quando no mesmo local há várias espécies, há competição pelos recursos existentes”, mas, em Portugal, aquela árvore apresenta-se em florestas monocultura.
“No caso dos eucaliptais, não estamos a falar de florestas mistas desta espécie com outras em que haja competição, estamos a falar de uma floresta homogénea, de eucaliptos, [que] utilizarão os recursos disponíveis nesse local o melhor que conseguem”, explicou, recordando que “o eucalipto é bastante eficiente a utilizar a água disponível”.
Porém, continuou, “se de facto há pouca água, há seca, eles vão-se ressentir e ter as tais quebras de crescimento”.
“À partida, os eucaliptais só são instalados em zonas que têm as condições necessárias, incluindo a presença de água”, apontou Helena Pereira, e em Portugal, aquele recurso, “de facto, é um dos grandes factores limitadores para tudo, para todo o crescimento de todas as árvores”.
Em Portugal, segundo a professora do ISA, o norte litoral e o centro litoral, até ao Algarve, são as áreas com mais aptidão para o eucalipto, uma espécie que “não se dá bem” em zonas de montanha, onde haja frio e geadas, ou em zonas com muito baixa precipitação e solos muito pobres, como aqueles existentes no interior do país.
Actualmente, o eucalipto é a espécie que ocupa maior área na floresta portuguesa, com 812 mil hectares, ou 25,8% do total, e o principal recurso industrial, a que são afectados 7,7 milhões de metros cúbicos de árvore sem casca, ou seja, 92% da madeira consumida para pasta de papel, segundo números do Centro de Estudos Florestais.
Cerca de 94% do total da indústria papeleira baseia-se no eucalipto, acrescenta.
(Agência Lusa)