A Câmara de Vila Real de Santo António pôs hoje em causa as interdições de apanha de bivalves, tendo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) contraposto não poder ignorar os níveis de toxinas.
Em comunicado, a autarquia considerou “’estranhos’ os resultados das análises que, há mais de dois meses, interditam a captura de bivalves (nomeadamente conquilha) no concelho de Vila Real de Santo António e questionou a validade das amostras que estão a ser efetuadas pelos laboratórios do IPMA”, dizendo ter pedido análises a um “laboratório devidamente certificado” com “resultados muito inferiores que tornariam as zonas aptas para a captura”.
Por seu lado, a directora do Departamento do Mar e Recursos Marinhos do IPMA, Antonina dos Santos, explicou à Lusa que o instituto já respondeu às solicitações da Câmara de Vila Real de Santo António e que “é impossível, do ponto de vista científico, comparar os resultados ou aceitar resultados de um laboratório do qual se desconhece a metodologia e o local da amostra”.
Para serem comparáveis, sublinhou a responsável do IPMA, é preciso que as amostras sejam recolhidas num local verificado por GPS e divididas para posterior análise em dois laboratórios separados, ou seja, a partir do mesmo local, no mesmo momento, visto tratar-se de algas microscópicas que variam consoante as condições do mar.
Luís Gomes diz não compreender resultados do IPMA
Antonina dos Santos disse que o IPMA sabe “perfeitamente que é um grande prejuízo para os mariscadores”, mas lembrou: “nós só podemos libertar uma zona e dizer que está pronta a ser utilizada quando temos dois resultados negativos seguidos [no espaço de 48 horas]. Não basta um resultado negativo”.
O presidente da Câmara de Vila Real de Santo António (VRSA), Luís Gomes, declarou não conseguir compreender “como as análises do IPMA apresentam valores de toxinas positivos enquanto as análises efetuadas pela Câmara de Vila Real, em laboratório devidamente certificado, com colheitas efetuadas nos mesmos locais, apresentam resultados muito inferiores que tornariam as zonas aptas para a captura de bivalves”.
Assim, a autarquia alertou que a situação está “já a provocar sérias dificuldades económicas às centenas de famílias do concelho que dependem única e exclusivamente da actividade da mariscagem”, pelo que vai pedir ao IPMA “respostas claras e transparentes sobre o rigor do local das colheitas”.
A directora do Mar e Recursos Marinhos do IPMA realçou que o instituto efectua análises semanais, ainda que só sejam disponibilizadas mensalmente, por falta de pessoal.
A apanha de bivalves encontra-se limitada em praticamente todo o Algarve, tendo sido detectadas nas zonas litorais entre Faro e Vila Real de Santo António toxinas que “provocam intoxicação diarreicas”.
(Agência Lusa)