Castro Marim foi um dos concelhos onde nestas eleições a campanha foi mais disputada. Para tanto contribuíram entre outros factores a cisão da estrutura concelhia do PSD e a candidatura independente do ex-presidente da Câmara José Estevens.
No domingo, contas feitas aos votos depositados nas urnas pelos eleitores, a Câmara foi ganha pelo actual autarca Francisco Amaral por tão só 32 votos face à segunda força mais votada, o PS que candidatou Célia Brito.
Já José Estevens, à cabeça do CM1, alcançou 826 votos, menos 629 que o presidente da Câmara eleito pela coligação que uniu PSD e CDS-PP.
Na Câmara o panorama será o de dois vereadores para Francisco Amaral, dois para o PS e um para o CM1, com Célia Brito e José Estevens a confirmarem ao POSTAL que vão ocupar os respectivos lugares.
Para José Estevens “a votação que obtive com mais de 800 eleitores a depositarem em mim a sua confiança leva-me a que não possa deixar de ocupar o lugar de vereador e participar nas decisões que definirão o futuro do concelho”, disse ao POSTAL.
Uma governação sem maioria: nem na Câmara, nem na Assembleia Municipal
Francisco Amaral fica assim sem maioria na Câmara, uma situação com que contava no anterior mandato e que facilitava sobre maneira o processo de tomada de decisões pelo executivo.
Já na Assembleia Municipal (AM), dominada desde 2013 pelo PS (8 deputados e dois presidentes de Junta de freguesia), o autarca continua sem maioria apesar de somar 6 deputados e 3 presidentes de Junta de Freguesia, já que o PS soma 6 deputados e 1 presidente de junta e o CM1 3 deputados. Contas feitas Francisco Amaral conta com 9 assentos na AM, mas a oposição no conjunto conta com 10.
Câmara ingovernável ou não
A grande questão do rescaldo eleitoral em Castro Marim, é a de saber se a autarquia se tornará ingovernável ou não face ao quadro político resultante do sufrágio.
A única Câmara do Algarve onde o executivo não tem maioria depois das eleições de domingo é assim a grande incógnita do futuro autárquico na região.
Ao POSTAL Francisco Amaral diz que “não vê qualquer problema na situação”. “Sou o dinossauro dos autarcas do país e consegui a minha sétima eleição”, refere o presidente da Câmara, acrescentando que “já governei em minoria e isso não constitui um problema para quem como eu é um homem de diálogo, de bom-senso e para quem o que importa é a resposta às necessidades das pessoas de Castro Marim e do concelho em si mesmo”.
“Não sou um déspota, gosto de trabalhar em equipa e a criação de consensos não me é difícil”, remata o autarca na conversa que manteve com o POSTAL.
Já a oposição não parece ver a geração de consensos numa perspectiva tão ‘cor-de-rosa’. Para José Estevens “a situação em Castro Marim é tal que reclama um intervenção séria que possa por-lhe cobro”.
Apesar de não termos conseguido explicar suficientemente aos eleitores esta situação e tudo o que está a acontecer e por isso não termos ganho as eleições, os votos que tive e o mandato que deles resulta implicam que exerça a vereação de acordo com o nosso programa e com as questões que levantámos como preocupações durante a campanha”.
José Estevens destaca que “resta saber se o PS, que alertou para algumas destas matérias durante a campanha, se manterá fiel ao que disse sobre os problemas do concelho e actuará na Câmara de forma concordante com o que disse aos eleitores”.
A crispação notória desde a cisão do PSD de Castro Marim entre as facções que apoiaram José Estevens e Francisco Amaral não dá sinais de amainar e portanto não são de esperar facilidades para Francisco Amaral neste diálogo.
Já com o PS Francisco Amaral pode contar “naquelas que são as questões estruturais para o concelho”, disse ao POSTAL Célia Brito. “Nestas matérias não seremos impedimento para aquilo que sejam as medidas necessárias ao desenvolvimento do concelho”.
Já no resto a posição dos socialistas guia-se por outros azimutes. “Quer no anterior mandato, quer na campanha assinalámos situações com as quais não concordamos e que no actual quadro terão de ser repensadas e manteremos nestas matérias a posição que defende mos até aqui”, diz a vereadora eleita.
Parece assim poder deduzir-se que Francisco Amaral conta com o PS para viabilização dos orçamentos, mas que terá que muito dialogar para levar a água ao seu moinho nas decisões diárias da acção camarária que visa desenvolver.