A Câmara de Aljezur está a recuperar o moinho de vento de Odeceixe, um dos principais polos de atracção turística da vila algarvia da costa Vicentina, onde outrora se observava todo o processo artesanal da moagem de cereais.
Os trabalhos incidem na recuperação dos mecanismos para o funcionamento do moinho e na valorização do espaço envolvente, com a colocação de estruturas de apoio, iluminação e passadiços que vão permitir o acesso a pessoas com mobilidade reduzida.
“Não é uma obra pesada nem de grande investimento, mas pretende dar dignidade a este local que é um dos símbolos turísticos mais importantes da vila”, disse à Lusa o vereador da Cultura da Câmara de Aljezur, José Gonçalves.
O moinho de vento de Odeceixe foi recuperado há cerca de 15 anos, para que funcionasse, “não só com a missão de moer cereais, mas também como oferta turística cultural”, referiu o autarca.
“Além da sua beleza natural, o moinho está situado num ponto estratégico que permite desfrutar de uma magnífica panorâmica sobre a vila e a várzea, o que se traduz num ponto turístico muito expressivo”, frisou.
O “monumento” recebe entre quatro a cinco mil pessoas durante o Verão, “o que o torna num dos mais visitados do concelho de Aljezur”, disse José Gonçalves, antevendo que a melhoria dos acessos “possa contribuir para um aumento substancial” de visitas.
“Existem cada vez mais turistas que procuram este tipo de oferta cultural durante todo o ano, e, certamente, com o espaço envolvente ordenado, tornar-se-á num ponto mais apelativo”, destacou.
Engrenagem de funcionamento do moinho está a ser recuperada
Propriedade da Câmara de Aljezur, que ali mantém um polo museológico, a engrenagem de funcionamento do moinho está a ser recuperada com o apoio do seu construtor, o mestre moleiro Alexandre Candeias, um dos poucos que ainda conhece as técnicas e a arte de construir e funcionar com os moinhos de vento.
Aos 70 anos, Alexandre Candeias, já na reforma, disse à Lusa que “está sempre disponível para ajudar na reabilitação do mecanismo que faz funcionar o moinho”, mas lamenta que “não apareça ninguém que queira aprender a arte”.
“Não digo que faço tudo, porque a idade já não permite certos esforços, por isso preciso de uma pessoa com mais força que me ajude”, frisou.
Segundo o antigo moleiro, “são pequenos os arranjos necessários” para que o moinho volte a funcionar com a vertente pedagógica, mas, para fazer farinha, “já não está ‘em jeitos’, nomeadamente a parte de controlo de farinha e de vento”.
Descendente de moleiros, Alexandre Candeias, construiu e recuperou, ao longo da sua vida, dezenas de moinhos de vento em Portugal e em Espanha, realçando que “alguns ainda funcionam com a missão de moer cereais.
“Nasci e fui criado dentro de moinhos, tanto de vento como de água. O físico já não dá para trabalhar com isto, porque é um trabalho bastante pesado, mas há sempre a saudade de pôr um moinho a trabalhar”, acentuou.
“Fico satisfeito pela recuperação, não só porque foi uma obra feita por mim, mas também para o mostrar às muitas pessoas que o visitam”, destacou o mestre moleiro, recordando, “com saudade, os dias em que recebeu mais de 300 visitantes” na sua obra em Odeceixe.
“Acredito que a recuperação do moinho traga mais pessoas para que fiquem a conhecer as tradições destas aldeias”, concluiu.
(Agência Lusa)