Vinha agora a chegar de mota quando me lembrei dele. Há um qualquer toque de “badass person” que se nos agarra à essência quando conduzimos uma Harley. Talvez aconteça o mesmo com outras motas, não poderia dizer; o certo é que foi a propósito de me vir a sentir uma “badass woman” que recordei o delicioso episódio:
– Olha, repara naquele rapaz!
Estávamos as duas a almoçar no centro comercial e voltei-me para trás para o ver.
– O que tem o rapaz, mãe?
Tinha pinta de rufia; calças rasgadas, blusa atada à cintura, cabelo desalinhado e uma barba insubmissa. Tinha a atitude rebelde colada a cada pedaço de si e uma aura de badass boy a emanar de todos os poros.
– Esta manhã, quando eu estava à espera da minha consulta, ele estava lá na sala de espera, sentado com o computador ao colo.
– E?…
– E não havia mais cadeiras por isso ele insistiu em ceder-me a dele, apesar de estar a trabalhar no computador. Depois sentou-se no chão e continuou a trabalhar até a mãe dele sair da consulta.
Antes de me ir embora, lancei novo olhar ao rapaz. Sentara-se a almoçar e, na parte de trás do seu blusão de ganga, pude ler “bad to the bone”. Sorri à anedota com ternura e desejei-lhe sorte em silêncio.
É mais que sabido que não podemos julgar ninguém pelas aparências pois temos elevadas probabilidades de embarcar em conclusões muito erradas. O que talvez não seja assim tão óbvio é que, muitas vezes, quem quer deixar transparecer uma personalidade durona pode até ser detentor de uma educação e sensibilidade muito acima da média. Mas o que me chateia mesmo é quem julga à descarada os outros e, por trás de uma irrepreensível aparência, tem mais pecados num só pensamento que muitos badass em centenas de atitudes.
É! Há alguns mundos no meu mundo que estão recheados de pessoas badass e é precisamente nessas que sempre encontro as maiores e mais deliciosas doses de inocência, respeito e bondade.