Não é o partido que condiciona os meus direitos
Há uma guerra aberta entre o PS e o seu antigo autarca. Tudo porque Francisco Martins, 53 anos, depois de ter renunciado a meio do seu segundo mandato, por razões de saúde, volta agora determinado a disputar a liderança da Câmara de Lagoa aos socialistas pelo movimento cívico “Lagoa Primeiro”. O PS não lhe perdoa e acusa-o de inconstância. O candidato recusa entrar numa campanha suja
P – Que razões estiveram na origem do seu pedido de renúncia à presidência da Câmara de Lagoa e o que o leva agora a avançar para uma nova candidatura?
R – Tive de renunciar ao mandato por questões de saúde e após um longo período em que tentei conciliar as minhas funções autárquicas com os tratamento e operações a que tive de me sujeitar. Foi uma batalha dura e solitária. Muitos duvidaram dessas razões talvez por não ter tido um fim trágico, mas cinicamente conveniente para alguns. Durante todo o tempo que mediou entre a minha saída e a decisão de voltar fui muito acarinhado e estimulado por muita gente e entendi, que reunindo as condições necessárias para acabar o que tive de interromper e por gratidão para com todo esse carinho, me deveria disponibilizar a ser candidato.
P – Não receia que, sobretudo da área do PS, possa ser olhado pelos eleitores com desconfiança por ter decidido avançar – como se diz dentro do Partido Socialista – com um movimento cívico porque não terá sido recebido novamente como seu candidato?
R – O partido tem as suas dinâmicas internas e eu limito-me a respeitar que determinem as suas escolhas segundo os seus princípios. Mas, também entendo que não é o partido que me condiciona nos meus direitos. Quanto ao que o partido diz ou pode dizer, garanto que imaginação não lhes falta, basta ir acompanhando tudo o que vai sendo dito sobre mim. Tenho a certeza que estão muito aliviados pela minha saída.
Hoje Lagoa é Lagoa e não um concelho ao lado do outro. Tenho muito respeito pelos municípios vizinhos, mas entendo que não nos podemos submeter a ninguém
P – Quais os objetivos da sua candidatura em termos de resultados eleitorais?
R – O objetivo é claro. Queremos concorrer a todos os órgãos do poder autárquico e lutar dentro das regras democráticas pela vitória de todas as listas. Temos consciência de que será uma batalha dura e desigual, partimos do zero e quem lá está parte com mais de 60% dos votos. Mas estamos empenhados e motivados em mostrar a nossa diferença. Para começar e a maior diferença que já se pode constatar é a de que não concorremos contra ninguém nem iremos atacar ninguém, nem entrar na maledicência. Concorremos por Lagoa e pelas suas/nossas gentes.
P – Sente que Lagoa tem dificuldade de afirmação no contexto sub-regional onde se inscreve, em consequência da polaridade exercida pelo concelho vizinho de Portimão?
R – Lagoa sofreu muito com essa situação. Em 2013 quando assumi funções entendi que Lagoa teria de se afirmar por si e pelo seu valor. Lançámos uma série de iniciativas e campanhas de promoção do concelho que surtiu efeito. Hoje Lagoa é Lagoa e não um concelho ao lado do outro. Tenho muito respeito pelos municípios vizinhos, mas entendo que não nos podemos submeter a ninguém.
P – Trabalhou no gabinete de Jamila Madeira, enquanto secretária de Estado adjunta da Saúde e, desde então, como vogal da ARS-Algarve. Pergunto: Está satisfeito com a resposta das autoridades à pandemia? As vacinas estão a chegar aos grupos prioritários? Quantas pessoas já estão vacinadas?
R – Sim, trabalhei e tive oportunidade de conhecer uma das pessoas mais extraordinárias que já tive o prazer de conhecer. A Jamila Madeira é uma pessoa extraordinária, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista técnico, mas o que mais me encantou foi o seu enorme humanismo.
Quanto à resposta à pandemia, penso que está a ser gerida o melhor possível, obviamente nem tudo é perfeito, mas o que posso testemunhar é que é feito o melhor que se pode e que se sabe.
É fundamental que se saiba que esta batalha é de todos e não só de alguns. Os êxitos e os fracassos dependem de todos nós.
Pandemia devastadora em Lagoa
P – Que reflexos da pandemia no turismo, emprego e no tecido empresarial do seu concelho?
R – Obviamente tem sido devastador. Os efeitos futuros ainda nem se sabe. A principal preocupação de todos os agentes políticos, e não só, da região deve estar focada na recuperação económica e social da nossa região. Cada sector da nossa atividade não é uma ilha isolada, tudo se relaciona e fico preocupadíssimo quando vejo pessoas com responsabilidades, estarem mais preocupadas em mostrar obras por causa de estarmos em ano eleitoral, do que em estarem focadas nos efeitos presentes e futuros desta pandemia.