Vários apicultores “andam a correr à frente do fogo” que lavra em Odemira para tentarem retirar colmeias dos campos, para as salvar das chamas, mas muitas já arderam e estimam-se prejuízos “muito elevados”.
“Eles andam a correr à frente do fogo a tentar retirar as colmeias e salvar o máximo possível”, disse hoje à agência Lusa Marta Rebelo, responsável técnica da Associação dos Apicultores do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (AASACV), que tem cerca de 300 associados.
Segundo Marta Rebelo, “há vários associados afetados” e “arderam varias colmeias”, mas o levantamento ainda não foi feito: “Não sabemos exatamente a dimensão dos estragos, mas já temos consciência de que são muito elevados”.
“Enquanto o incêndio não terminar e as pessoas não conseguirem chegar ao campo e ver efetivamente o que ardeu em cada apiário não conseguimos ter uma dimensão”, explicou.
Um dos apicultores que tem andado em “roda-viva” no campo, apesar do incêndio, é Adérito Chêta, de 58 anos, vice-presidente da AASACV, que vive em Portimão e tem cerca de mil colmeias em vários concelhos do Alentejo e do Algarve.
A maior parte, entre 250 e 300, encontra-se no concelho de Odemira, distrito de Beja, e, desde quarta-feira, quando o fogo eclodiu, tem estado a deslocar as suas colmeias localizadas na zona de Sabóia, para as salvar das chamas que lavram naquela freguesia alentejana.
“Eu e vários apicultores que têm apiários nesta zona andamos no campo, sempre muitos quilómetros à frente do fogo, para tentar retirar colmeias”, relatou o apicultor, posicionado num ponto alto da serra, a “tentar perceber a evolução e a direção do fogo” para saber como atuar na deslocação de colmeias.
Foi formado “um grupo grande”, o qual consegue, “com rapidez deslocar um apiário”, disse, precisando que, devido ao incêndio, já perdeu, “pelo menos, 28” colmeias, ardidas, tendo conseguido deslocar e salvar “entre 60 a 70” das que distribuiu pela área.
“Quando começamos a ver que o fogo está a poucos quilómetros de um apiário, deslocamo-nos para o mudar de urgência”, indicou.
O apicultor disse ter informação de que “já arderam muitas colmeias”, sobretudo “porque há apicultores que têm uma idade avançada e não têm condições para se deslocarem e andarem no campo a descolar colmeias”.
Nestes casos, a AASACV não pode ajudar a salvá-las, porque “não consegue identificar ao certo onde estão esses apiários”, frisou Adérito Chêta, estimando que sejam “muito elevados” os prejuízos para os apicultores na zona afetada pelo incêndio.
“Muitos deles, como eu, vivem exclusivamente da apicultura”, contou, explicando que, “nesta altura do ano, uma colmeia, muitas delas com mel, tem um valor muito elevado”, de cerca de 150 euros.
Não é só o valor atual da colmeia que está em causa, mas também “o investimento que já foi feito e o valor que se perde para o futuro, de anos de produção de mel”, sublinhou.
Numa “zona muito desfavorecida e onde a apicultura é uma grande atividade económica”, um apicultor que perde “40 ou 50 colmeias começa a ver a vida a andar para trás”.
Habitualmente, “a mudança de colmeias é uma atividade que tem de ser feita à noite”, porque senão “perdem-se muitas abelhas”, mas, com o fogo que tem estado a lavrar nesta zona de serra, os procedimentos tiveram que ser alterados: “Estamos a deslocar colmeias também de dia, mesmo perdendo abelhas”.
“Preferimos perder algumas abelhas do que perder colmeias inteiras. Temos que salvar qualquer coisa”, justificou.
Na aldeia de Sabóia, onde está instalado o comando do combate ao incêndio, esta tarde, o silêncio e a pacatez só eram quebrados pelo sino da igreja, pelo barulho de meios aéreos de combate às chamas e pelo movimento de veículos das autoridades de proteção civil, constatou a Lusa no local.
O incêndio que deflagrou ao início da tarde de quarta-feira na zona de Sabóia, no concelho alentejano de Odemira, foi considerado dominado às 18:40 de hoje, revelou a Proteção Civil.
Pelas 18:55, de acordo com a página na Internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), encontravam-se ainda envolvidos no combate ao fogo 652 operacionais, apoiados por 218 viaturas e cinco meios aéreos.
O incêndio, que deflagrou pouco depois das 13:00 de quarta-feira, junto ao lugar de João Martins, na freguesia de Sabóia, já consumiu “largas centenas de hectares”, numa zona de povoamento misto, com mato, eucaliptos, montado de sobro e pinheiros, segundo a Proteção Civil, numa primeira estimativa sobre a área ardida.
A operação de combate tem estado a envolver meios dos bombeiros e da Força Especial de Proteção Civil, assim como a AFOCELCA, GNR e Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).