As conversas informais são conduzidas pelo jornalista Henrique Dias Freire, diretor do jornal Postal do Algarve, e pela Ana Burnay, da equipa do Europe Direct Algarve. Dos primeiros três entrevistados, deixamos aqui alguns excertos e citações destas riquíssimas conversas que podem ser ouvidas na íntegra no site do postal.pt
FRANCISCO GUERREIRO
“Participem na Política! Não podemos desistir da democracia! “
Na nossa primeira edição do “À conversa com os Eurodeputados”, em plena presidência portuguesa da União Europeia, o deputado europeu independente Francisco Guerreiro (dos Verdes/ Aliança Livre Europeia e ex-PAN) é o nosso convidado [27JAN2021], acompanhado por Viriato Villas-Boas, na qualidade de cidadão, representando a sociedade civil. Francisco Guerreiro continua a sonhar com uma Europa melhor, mais atenta ao clima e aos direitos dos animais.
Considera-se um deputado “rebelde”?
“Não me cabe a mim” definir-me assim, mas a maior parte dos eurodeputados é muito pelo “satus quo”. As máquinas partidárias estão cristalizadas e falar em direitos dos animais ou da regeneração da economia para atingir metas climáticas é considerado “fora da caixa”. “Tem sido muito gratificante” este 1º mandato. Tenho aprendido muito, contactado com muitas pessoas, cidadãos, ONG, empresas… A maior parte dos eurodeputados não compreende a gravidade da situação que vivemos e não falo só do COVID, o “sistema está em rotura”.
Fazia parte dos seus projetos ser eurodeputado?
O meu percurso foi gradual e “natural”. A determinada altura algumas pessoas reviram-se na urgência de propor uma visão mais “rebelde”, mas foi “tudo muito natural”. “Como em tudo na minha vida, tenho metas, mas não faço projetos a longo prazo”. Como independente, esforço-me por “cumprir escrupulosamente o programa”. “Temos trabalhado muito”.
JOSÉ GUSMÃO
“Fala-se pouco em Portugal sobre o que se passa na União Europeia”
José Gusmão aceitou o nosso convite [28JAN2021] para nos falar do seu percurso de vida e a cidadã convidada foi Inês Pereira. Enquanto jovem, José Gusmão integrou a direção da Associação dos Estudantes do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) em Lisboa, onde se licenciou em economia. Foi assistente de investigação. É um dos autores do blogue sobre economia “Ladrões de Bicicletas” e coautor dos livros: A crise, a Troika e as Alternativas Urgentes e Economia com Todos. Enquanto ativista, participou na ATTAC Portugal, no Fórum Social Português, no Fórum Manifesto, na iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida e no Congresso Democrático das Alternativas. Foi militante do PCP aderindo mais tarde ao Bloco de Esquerda.
Foi deputado à Assembleia da República na XI Legislatura até 2011. Entre 2011 e 2018, trabalhou como assistente no Parlamento Europeu, com Miguel Portas de quem se tornou amigo (até ao falecimento deste, em 2012) e Marisa Matias, sempre nas questões económicas. Integra a Comissão Política do Bloco de Esquerda.
Foi eleito deputado para o Parlamento Europeu nas eleições de 2019 pelas listas do Bloco de Esquerda. Sempre se interessou pelas questões da União Europeia e no ISEG fez parte de um grupo de reflexão que organizou um referendo interno à entrara de Portugal na moeda única: campanha, debate, comissões promotoras do sim e do não…
ISABEL CARVALHAIS
“Acredito e luto por uma Europa mais justa e mais humana”
Vamos conhecer Isabel Carvalhais e convidámos para a conversa [29JAN2021] o cidadão Aquiles Marreiros com “três chapéus” que entendeu trazer: o de pai (trouxe as perguntas das filhas), o de técnico que trabalha há cerca de 20 anos com fundos estruturais e o de europeísta convicto. A eurodeputada é professora associada da Universidade do Minho, doutorada em Sociologia (Universidade de Warwick, Reino Unido) e as sua áreas de eleição são a ciência política, relações internacionais e a cidadania. Não fazia parte dos seus planos a vida política, mas sente-se em missão – chama-lhe “militância cívica”. A postura crítica e interrogativa vem-lhe da investigação.
Como é ser eurodeputado no feminino?
“Foi ainda durante a campanha eleitoral, que pela primeira vez me perguntaram: E agora o seu filho? E o seu marido deixa [ir para Bruxelas]?” No contexto académico, felizmente, nunca fora vítima de discriminação de género e por isso nunca até à altura da campanha tinha sentido o quão presentes estão ainda os preconceitos em torno dos papéis de género. Mas refere que é importante ter “um suporte familiar estável”, porque “é um grande desafio”. “O ritmo em Bruxelas é alucinante”, afirma.
“Não sei se as pessoas têm muito a noção do trabalho que se faz como eurodeputado”. “Tento estar a 100% no meu trabalho de eurodeputada, mas estando também presente para a família”. É exigente! Muitos dias começam com reuniões virtuais às 7 da manhã e estendem-se até as 19h/20h, com um pequeno intervalo para almoço, partilha a eurodeputada, frisando contudo que nunca se queixa, nem sente ter o direito de o fazer, sobretudo quando compara a sua situação com a de tantas outras trabalhadoras (ou que perderam recentemente o seu trabalho), também elas mães e mulheres.