As conversas informais são conduzidas pelo jornalista Henrique Dias Freire, diretor do jornal POSTAL, e pela Ana Burnay, da equipa do Centro Europe Direct Algarve. Deixamos nesta edição, o testemunho de mais dois deputados europeus, com alguns excertos e citações destas riquíssimas conversas que podem ser ouvidas na íntegra no site do postal.pt
PEDRO MARQUES
“A distância percebida pelos cidadãos em relação a Bruxelas é muito grande”
As decisões que tomamos em Bruxelas impactam e muito na vida dos cidadãos. Os eurodeputados não poderão perder a ligação às regiões… faz parte da natureza e da função para a qual fomos eleitos.
À conversa com o eurodeputado socialista Pedro Marques [04FEV2021], estiveram Henrique Dias, do Postal do Algarve, Ana Burnay do Europe Direct Algarve e Maria de Lurdes Carvalho, na qualidade de cidadã. Quisemos saber como se chega a eurodeputado? De que forma se assegura a dupla transição ecológica e digital? Como estão a responder outras regiões a situações semelhantes? Qual o papel do mecanismo de Recuperação e Resiliência? Porque é necessária regulação das redes sociais? E pedimos- -lhe que concluísse com uma mensagem de esperança.
O percurso Pedro Marques começa por explicar que fez a sua vida entre o setor privado e o público sempre com muito envolvimento cívico. Foi membro do executivo de uma junta de freguesia e está na política desde cedo. Passou pelo poder local, foi membro de três governos, deputado à Assembleia da República no período da Troika.
Era ministro do governo de António Costa até “encabeçar” a lista do PS para as eleições europeias, tendo obtido a maior vitória eleitoral da história do partido. Considera que o seu percurso político foi de certa forma natural. “Tinha feito já um pouco de tudo o que podia fazer” e foi percebendo a importância da Europa, o “fortíssimo envolvimento da Europa” nas decisões de políticas públicas. Percorreu o caminho natural de alguém que, tendo consciência cívica e vontade de participação política, quis também participar ao nível europeu nas decisões que tanto influenciam o desenvolvimento do nosso país e o da Europa como um todo.
O Algarve
Quanto à região do Algarve refere que a concentração da atividade económica no produto do turismo é uma característica e ao mesmo tempo um problema que “ainda não foi possível resolver” apesar do esforço de diversificação. Acredita no potencial de recuperação da economia do Algarve, sobretudo do turismo de natureza e de sol e praia, no período pós-covid, simplesmente porque há experiências que não podem ser vividas no digital. São impactantes contudo as questões ligadas nomeadamente à mobilidade aérea, refletidas nos custos transporte e em fatores ambientais que o Green Deal obriga a considerar.
Pedro Marques afirma estarem “muito atentos” para garantir que as regiões mais remotas ou mais dependentes do turismo, como é o caso do Algarve, não sejam “tão afetadas”. Contudo, a economia do Algarve continua a precisar de fazer um esforço de integração de fileiras, por exemplo entre o setor primário (valorização de produtos endógenos) e o terciário (atividade turística).
Mensagem final
Na sua mensagem final, Pedro Marques refere-se a ” tempos dificílimos” que vivemos, e diz que “ainda é difícil sentir já esperança”. Contudo, com o processo de vacinação a decorrer, acredita que vamos chegar a “ bom porto”. Diz ainda que gostava que o avanço da primavera correspondesse a uma fase de esperança para todos.
Frente ao maior desafio que o Mundo enfrenta a seguir à 2ª Guerra Mundial, “temos que conseguir, juntos, como sociedade, ser resilientes, recuperar em direção a uma sociedade melhor”. Diz com orgulho que na Europa “estamos na Europa a fazer a nossa parte”.
MARGARIDA MARQUES
“Realço a importância das pessoas conhecerem o que se faz na Europa e o que ela faz por nós”
À conversa com a eurodeputada Margarida Marques [05FEV2021], estiveram Henrique Dias, do Postal do Algarve, Ana Burnay e Catarina Cruz do Europe Direct Algarve e Paula Custódio, na qualidade de cidadã. Conversamos sobretudo sobre o orçamento plurianual, revelámos um interessante podcast que publica todas as sextas-feiras, mas ficámos sobretudo a conhecer um pouco melhor a Margarida Marques.
Como o percurso de vida trouxe Margarida Marques ao PE
Margarida Marques era deputada na Assembleia da República na altura da adesão de Portugal à União Europeia (então CEE). Passou pelo Comité do Programa PETRA (um dos antepassados do ERASMUS) em representação do Ministério da Educação e a partir de 92 mudou-se para Bruxelas onde trabalhou durante 20 anos na Comissão Europeia. Passou pelo governo como secretária de Estados dos Assuntos Europeus, tendo de seguida sido deputada na AR, onde integrou a Comissão de Assuntos Europeus.
Nas últimas eleições para o PE, em 2019, foi eleita pelo PS. “Aconteceu!” Esta larga experiência permitiu-lhe tornar-se relatora do importante dossier do Orçamento Plurianual da União Europeia 2021-2027. “Não seria dado a um principiante”. Conhecer “os corredores” das 3 instituições (Comissão Europeia, Conselho da UE e Parlamento Europeu) deu-lhe vantagem nesta negociação. E confessa: “Dá-me prazer sentir que consigo ter uma atitude diferente na relação com as 3 instituições”.
Tem tempo para vida própria?
Sempre consegui conciliar a vida pessoal com a minha vida profissional e pública. O que mudou foi a pandemia com todos os limites que impõe na nossa vida. No Parlamento Europeu lidamos com gente muito diversificada, temos muito trabalho. “Gerir o tempo é uma arte”.
A economia circular e o Pacto ecológico no orçamento Plurianual
“Tem que haver seriedade no discurso político”. Assim a preocupação do PE foi assegurar que se mantinham as prioridades políticas e que se garantia o financiamento para as mesmas.
O PE negociou assim em 30% a percentagem a utilizar no combate as alterações climáticas e em 10% na defesa da biodiversidade, tanto no Quadro Financeiro Plurianual como no Fundo Recuperação.
O acordo político alcançado fixou também seis pilares essenciais: a green transition; transformação digital; coesão económica, produtividade e competitividade; coesão social e territorial; resiliência sanitária, económica, social e institucional; políticas para a próxima geração.
Uma mensagem final
Para Margarida Marques é importante as pessoas conhecerem o que se faz na “Europa” e o que a UE faz por nós. Conhecermos na prática o espaço político, geográfico, em que vivemos E destaca a ação da União Europeia na compra das vacinas. “Foi uma iniciativa extraordinária”.
A UE construiu uma resposta europeia à crise com o Next Generation EU e agora com o processo de vacinação para que possamos rapidamente voltar à normalidade.
RELACIONADO:
► À conversa com os nossos eurodeputados, iniciativa do Europe Direct Algarve e do POSTAL