Como os homens com mais 18 anos (e menos de 60) só podem embarcar se o conseguirem fazer sem que a polícia os veja, na estação de Lviv há maioritariamente crianças e mulheres, muitas vezes uma mulher tem várias crianças pela mão, nem sempre todas são suas.
De perto, os enviados do Expresso deixam o testemunho de uma semana dramática, que abalou também o mundo.
Todos os edifícios públicos de Lviv que permanecem abertos se tornaram pontos de recolha e distribuição de alimentos, roupas, cobertores, medicamentos, sacos-cama, tendas, itens de higiene pessoal e até eletrodomésticos.
Debaixo do Museu das Artes existe um corredor que serve de abrigo antiaéreo a cada vez que ecoam as sirenes na cidade. Durante uma ação de recolha de mantimentos para as tropas, todos tiverem de se abrigar nesta estreita passagem e uma rapariga que estava a oferecer bolos levou-os para baixo.
Por todo o lado nascem postos de vigilância, a cada 20 quilómetros nas principais estradas e depois à entrada de cada vila e aldeia. Uns têm pedras, outros divisões de betão, pneus, sacos de areia, estruturas de metal fundido, espinhosas, para impedir os tanques.
Nos checkpoints à entrada de Lviv, os que têm mais homens, mais armas e mais segurança, os turnos são de 6 horas, 20 homens de cada vez, mas é normal estarem 50 ou 60.
Alissya saiu de Kharkiv a tempo de evitar os piores bombardeamentos. Encontramos a sua família, três filhos menores e o marido norte-americano, na extensa fila a caminho da Polónia. Estavam na estrada há 40 horas.
Um habitante de Lviv na sua bicicleta, já depois do recolher obrigatório, que se impõe sobre a cidade às 22h.
Caixotes de massa, sacos de batatas, fruta, pão, feijões, latas de tomate. Os cidadãos de Lviv têm doado centenas de toneladas de comida, tal como os próprios supermercados. Da Polónia entram mais carrinhas, todos os dias, com ajuda de outros países europeus.
A cidade de Lviv está calma, e assim é desde o início da guerra. Alguns restaurantes, bares, cafés, lojas não essenciais fecharam ou têm horários reduzidos mas a vida na cidade continua movimentada, as pessoas mantêm os seus hábitos.
Tal como ao longo das filas de carros até à fronteira da Polónia, onde famílias chegam a esperar 50 horas para conseguirem passar, também na estação de comboios há cozinhas ambulantes que oferecem chá quente, sopa e refeições a quem tem de esperar aqui por um comboio de fuga.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados estima que pelo menos um milhão de pessoas tenham já fugido da Ucrânia desde o início da guerra, a 24 de fevereiro.
Três mulheres encostadas à parede da estação de Lviv esperam um comboio para o ocidente – Polónia. Os corredores são quase intransitáveis, os bilhetes não existem, os horários também não, há sempre cancelamentos e o desespero das pessoas, sem descanso, ao frio, sem comida, com crianças, está em todos os rostos.
O teatro de Les Kurbas, no centro de Lviv, tornou-se um local de acolhimento de algumas famílias. As crianças tocam piano e brincam no palco, onde agora há colchões, sacos de roupa, malas, mas vê-se pouca bagagem num local que alberga quem deixou tudo para trás.
Milhares de pessoas desembarcam todos os dias na estação ferroviária de Lviv, fugidas de cenários dramáticos, e depois seguem em outros comboios para a Polónia. Só que esses comboios chegam quando calha, e as pessoas esperam horas e horas.
Nos primeiros dias de guerra Lviv não tinha militares na rua, pelo menos não vestidos como tal. Com o crescer da ameaça, são cada vez mais os que se veem, à porta de centros de treino, bancos, na praça principal, na estação ferroviária.
Mais de mil engenhos explosivos são produzidos por dia num espaço que costumava ser ocupado por uma fábrica de tintas. No dia em que a guerra começou, os trabalhadores dessa fábrica reconverteram a atividade, com consentimento dos donos.
Cocktails molotov prontos a seguirem para as frentes de batalha. Toda a gente os produz, em casa, nas igrejas, mas no espaço que o Expresso visitou o processo já está quase a funcionar como uma cadeia de produção.
Oleg Klynovskyj e Igor Turek, ambos mecânicos e motards de Lviv, fecharam a oficina aos clientes e usam-na agora para soldar vigas de metal até formarem uma espécie de estrela de várias pontas, pesada, usada nos vários checkpoints para impedir a progressão dos tanques – se eles chegarem até às portas da cidade.
Na estação de Lviv os comboios partem para a Polónia mas também para outras cidades do ocidente da Ucrânia, onde alguns ucranianos têm familiares e de onde pode ser menos caótico tentar seguir para a União Europeia.
No centro de Lviv, nas janelas por cima de uma discoteca, aparecerem esta semana estas mensagens, bastante auto-explicativas. Ao lado estão as versões em ucraniano e em russo.
Texto : Expresso, jornal parceiro do POSTAL