Nos últimos dias, têm-se sucedido apelos de chefes de cozinha para a necessidade de apoios do Governo à restauração, bem como os anúncios de encerramentos de estabelecimentos, quase todos sem data para reabrir.
Segundo fontes do setor, perto de 200 restaurantes já fecharam, de norte a sul do país, mas o número poderá continuar a aumentar nos próximos dias.
Pelo menos três restaurantes com uma estrela Michelin decidiram nos últimos dias fechar portas, sem saber quando poderão voltar a abrir.
“Face à ameaça crescente de propagação do vírus [que causa a doença] Covid-19, o Grupo Sana tomou preventivamente a decisão de encerrar temporariamente o espaço de restauração ‘Fifty Seconds'”, anunciou a empresa, sobre o restaurante lisboeta com a assinatura do ‘chef’ espanhol Martin Berasategui e que ganhou uma estrela Michelin no guia de 2020.
Trata-se, segundo o grupo, de uma “medida responsável e preventiva” para contribuir “para a defesa e proteção dos colaboradores, clientes, respetivas famílias e cidadãos em geral”.
A norte, o ‘Largo do Paço’ (Amarante, uma estrela) anunciou ter decidido “atuar preventivamente e encerrar” a atividade até ao final deste mês, “altura em que se irá reavaliar a situação”, justificando com a intenção de “salvaguardar a saúde e o bem-estar dos clientes, equipa e comunidade”.
Em Guimarães, o ‘chef’ António Loureiro comunicou hoje, através das redes sociais, o encerramento do restaurante ‘A Cozinha’, que tem uma estrela Michelin há dois anos, uma decisão que confessou ser “das mais difíceis” da sua vida.
“Até a tempestade passar”, afirmou, na publicação, justificando com a responsabilidade que sente para com a sua equipa e respetivas famílias bem como com a sua própria família.
Também o ‘Henrique Leis’ (Algarve), que perdeu este ano a estrela Michelin que deteve durante quase 20 anos, estará fechado a partir de hoje e, pelo menos, até dia 01 de abril.
“É nossa responsabilidade proteger os nossos empregados e clientes e ajudar a combater esta pandemia”, lê-se numa mensagem hoje divulgada pelo ‘chef’ Henrique Leis.
Rui Paula, que este ano viu a sua ‘Casa de Chá da Boa Nova’ (Matosinhos) ganhar a segunda estrela Michelin, desabafou, também através das redes sociais: “Nunca pensei que esta pandemia viesse afetar os nossos negócios de uma maneira tão rápida e incisiva”.
Há dois dias, o ‘chef’ falava já de uma quebra de 60% na faturação, um cenário que antecipava que se manterá pelo menos até junho ou julho. Rui Paula pede uma união de “‘chefs’, restauradores e hoteleiros” para fazer pressão junto das “entidades competentes”, reclamando “medidas drásticas e de rápida implementação”.
Face à crise, alguns restaurantes procuram já amenizar os impactos. No ‘Loco’ (uma estrela) e ‘Fogo’, ambos na capital, Alexandre Silva lançou ‘vouchers’ para serem usados “depois de a calamidade passar”, anunciou hoje no Facebook, uma iniciativa para responder aos “cancelamentos atrás de cancelamentos”.
“Enfrentamos hoje o que será uma das maiores, se não a maior crise na indústria da restauração (e não só)”, escreveu Alexandre Silva no Facebook, onde admitiu o seu “desespero”.
O ‘chef’ deixou um pedido às autoridades para que “coloquem em prática soluções para ajudar as empresas a ultrapassar isto tudo”.
Ljubomir Stanisic foi outro ‘chef’ que decidiu fechar os seus dois estabelecimentos em Lisboa – ‘100 Maneiras’ e ‘100 Maneiras Bistro’ a partir deste domingo, uma decisão tomada “apesar de não haver nenhuma indicação do Governo para o encerramento de restaurantes”.
“Esperamos que as ajudas oficiais cheguem, antes que seja demasiado tarde”, afirmou hoje, nas redes sociais, alertando: “O golpe financeiro que sofreremos poderá levar muito tempo a sarar”.
Também o grupo Amorim Luxury anunciou o encerramento dos seus espaços – ‘JNcQuoi Avenida’, ‘JNcQUOI Asia’, ‘Ladurée’ e ‘JNcQUOI CLUB’, na capital – bem como de várias lojas em Lisboa, Porto e Algarve, “tendo em conta os interesses superiores de saúde pública”, estando a reabertura condicionada “à reavaliação e acompanhamento permanente da evolução da pandemia”.
A partir de segunda-feira, os quatro restaurantes (‘Tasca da Esquina’, ‘Peixaria da Esquina’, ‘Balcão da Esquina’ e ‘Talho da Esquina’) e as três ‘Padaria da Esquina’ de Vítor Sobral, em Lisboa, estarão de portas fechadas, mas o ‘chef’ vai manter a venda de refeições e produtos à porta dos estabelecimentos ou através da entrega em casa através de plataformas digitais, anunciou na sua página no Facebook.
Vítor Sobral lançou também um apelo, em entrevista ao Expresso, para que o Governo implemente uma linha de financiamento para o setor e permita o pagamento faseado dos impostos, medidas essenciais para evitar “uma pandemia de desemprego”.
O novo coronavírus responsável pela pandemia de COVID-19 foi detetado em dezembro, na China, e já provocou mais de 5.500 mortos em todo o mundo.
O número de infetados ultrapassou as 143 mil pessoas, com casos registados em mais de 135 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 169 casos confirmados.