O número de infetados pelo novo coronavírus em Itália pode ser dez vezes maior do que oficialmente reportado e chegar a 600.000, admitiu o chefe da Proteção Civil italiana, Angelo Borrelli, numa entrevista ao jornal “La Repubblica”.
“Para cada infetado declarado, há dez não registados”, disse Borrelli, que diariamente comunica os dados oficiais em conferência de imprensa e, na segunda-feira, indicou que 63.000 pessoas estavam infetadas em Itália.
Quando questionado se faz sentido continuar a dar os números de casos positivos todos os dias, o chefe da Proteção Civil garante que também tenha pensado nisso e que muitas pessoas pedem que pare.
“Estes podem ser dados imperfeitos, mas, desde o primeiro dia, eu assegurei que diria a verdade, é um compromisso que assumi com o país. Se pararmos, vão acusar-nos de esconder coisas”, explicou Angelo Borrelli.
Segundo dados fornecidos por Borrelli na segunda-feira, o número de mortes em Itália por covid-19 atingiu 6.077, com um aumento de 602 em apenas 24 horas, o que representa o segundo dia consecutivo em que as mortes diminuíram.
O número de pessoas atualmente doentes é de 50.418, um aumento de 3.780 casos positivos em comparação aos registados no domingo.
Borrelli criticou o comportamento de algumas pessoas, como o grupo de amigos da província de Lodi que saiu de férias para a ilha de Ischia em 23 de fevereiro, o que causou infeções naquela área, ou os 29 moradores de Bérgamo que foram de férias para a Sicília.
O responsável da Proteção Civil também destacou que o jogo de futebol Atalanta-Valencia, disputado no estádio San Siro, em Milão, com 46.000 espetadores, “foi potencialmente um gatilho”.
O diretor da Unidade de Microbiologia e Virologia de Pádua (Vêneto), Andrea Crisanti, responsável pela massiva campanha de testes que a região está a implementar, partilha a mesma opinião de Borrelli.
“Em Itália, é necessário contar pelo menos 250.000 pessoas assintomáticas, a maioria delas concentradas na Lombardia, e outras 200.000 com sintomas”, explicou em entrevista ao jornal local “Il Gazzettino”.
Andrea Crisanti destacou a importância de realizar testes de maneira massiva, como foi feito no Veneto, e explicou que o objetivo é passar de 2.000 para 4.000 testes por dia até atingir 20.000 por dia.
Graças aos 61.115 testes realizados em Veneto, foram identificados mais de 5.505 pacientes assintomáticos, enquanto a Lombardia, que possui o dobro da população de Veneto, 73.242 análises foram realizadas.
O jornalista e vice-diretor da página de informações “Il Post”, Francesco Costa, denunciou num artigo há alguns dias que “os dados sobre o novo coronavírus estão a dizer cada vez menos” sobre a situação.
“Como a covid-19 só se apresenta de forma grave numa minoria de pessoas infetadas, isso significa que o número da Proteção Civil representa apenas uma parcela bastante pequena das pessoas infetadas em Itália, que são pelo menos quatro ou cinco vezes esse número”, declarou Costa.
Costa acrescentou que os critérios para a realização dos testes “mudam de região para região” e isso torna os dados irrealistas.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 345 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 15.100 morreram.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.