O economista e analista político português Luís Gomes comentou esta segunda-feira no canal norte-americano Univisión as propostas de Donald Trump que preveem um cheque de 2.000 dólares por pessoa e hipotecas a 50 anos, alertando para os riscos de inflação e desequilíbrios estruturais.
Trump propõe novo cheque de 2.000 dólares
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um novo pacote de estímulos económicos que inclui um cheque direto de 2.000 dólares à maioria dos cidadãos norte-americanos, financiado pelas receitas de tarifas aduaneiras.
Durante o programa Prime Time da Univisión, o economista e analista político algarvio Luís Gomes analisou estas medidas, considerando que a proposta tem motivação essencialmente política.
Segundo Luís Gomes, “Trump tenta dar um sinal de proximidade à classe média num contexto de perda de poder de compra, mas fá-lo através de soluções insustentáveis”. O economista explicou que a ideia de redistribuir dividendos das tarifas “visa recuperar popularidade depois de onze meses difíceis de governação”, acrescentando que “sessenta por cento dos norte-americanos não estão satisfeitos com o estado do país e atribuem a responsabilidade ao presidente”.
Risco de inflação e impacto no mercado laboral
Na entrevista, Luís Gomes alertou que o impacto financeiro das medidas poderá ser superior às receitas geradas pelos impostos sobre importações.
“O resultado das tarifas pode situar-se entre 200 e 300 mil milhões de dólares, enquanto a provisão para os cheques ronda os 600 mil milhões. Se estes números forem verdadeiros, não se trata de dividendos, mas de uma injeção que aumenta a inflação e pressiona o mercado laboral”, afirmou.
O economista sublinhou ainda que o mercado de trabalho norte-americano “está a perder dinâmica” e que Trump “procura compensar rapidamente a classe média, a mais afetada pela subida dos preços e das taxas de juro”.
Hipotecas a 50 anos podem agravar endividamento
Luís Gomes abordou também a proposta de criação de hipotecas com prazos até 50 anos, uma medida que o presidente norte-americano apresentou como forma de facilitar o acesso à habitação.
O analista político considerou que “a curto prazo, a medida é interessante, porque reduz o valor das prestações mensais e dinamiza a economia”. No entanto, alertou que “a longo prazo, as pessoas acabarão por pagar mais, e o problema estrutural da habitação — a escassez de oferta — continuará por resolver”.
Medidas populares, efeitos incertos
As propostas de Donald Trump — o cheque de 2.000 dólares e as hipotecas de 50 anos — foram apresentadas como soluções para estimular o consumo e aliviar o custo de vida. No entanto, segundo analistas citados pela Reuters e pela BBC, estas políticas podem agravar o défice e criar novos desequilíbrios no mercado imobiliário, caso não sejam acompanhadas de reformas estruturais.
Para Luís Gomes, “a popularidade destas medidas é imediata, mas o custo social e financeiro virá depois”.
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