Num mundo onde o tempo escasseia e os imprevistos acontecem, como cortes de eletricidade, as conservas continuam a ser uma solução prática para muitos lares. A sua longa durabilidade faz delas uma escolha segura em situações de urgência. Mesmo o salmão enlatado, menos comum, pode revelar surpresas inesperadas.
Embora a maioria das pessoas descarte conservas fora de prazo, alguns cientistas viram nestas uma oportunidade única de investigação. Foi isso que motivou uma equipa da Universidade de Washington a analisar latas de salmão com várias décadas.
Uma pesquisa publicada com dados valiosos
Segundo o jornal AS, este trabalho foi publicado na revista Ecology and Evolution e centrou-se em 178 latas de salmão enlatado entre 1979 e 2021. O principal objetivo era perceber melhor as condições ambientais dos locais onde os peixes foram capturados.
Descoberta inesperada ao abrir uma lata de 50 anos
Ao abrirem uma das latas mais antigas, com mais de 50 anos, os investigadores depararam-se com um detalhe inesperado: parasitas marinhos ainda bem preservados. Trata-se dos anisákidos, organismos habitualmente associados a ecossistemas oceânicos saudáveis.
Longe de representarem um risco imediato para a saúde, estes parasitas foram interpretados como um bom sinal. “A presença de anisákidos é uma sinal de que o peixe no teu prato provém de um ecossistema saudável”, afirmou Chelsea Wood, uma das responsáveis pelo estudo.
A cadeia alimentar onde estes parasitas se inserem é bastante complexa. Inicialmente ingeridos por krill, os anisákidos passam depois para peixes maiores, como o salmão, até chegarem aos intestinos de mamíferos marinhos, onde completam o seu ciclo de vida.
A importância dos hospedeiros marinhos
Caso falte um dos seus hospedeiros, os parasitas não conseguem reproduzir-se, o que acaba por afetar negativamente a sua população, como acaba por referir o jornal espanhol. “Se não há um hospedeiro presente (como os mamíferos marinhos), os anisákidos não podem completar o seu ciclo de vida e o seu número diminuirá”, explicou Wood.
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Uma amostra ampla e rigorosa
As amostras utilizadas nesta investigação incluíam quatro espécies de salmão pescadas no Golfo do Alasca e na Baía de Bristol ao longo de 42 anos. Esta variedade permitiu aos cientistas comparar dados ao longo do tempo.
Diferenças entre espécies de salmão
Os resultados mostraram um aumento progressivo destes parasitas no salmão rosado e no salmão chum, o que indicia que os seus ciclos de vida foram bem-sucedidos. Por outro lado, não se verificou crescimento semelhante nas espécies de salmão vermelho e coho.
Sinais positivos para a biodiversidade marinha
De acordo com a mesma fonte, a presença constante dos parasitas, especialmente nas latas mais recentes, reforça a ideia de que os ecossistemas marinhos envolvidos mantiveram um bom equilíbrio ao longo das últimas décadas. Isso revela-se especialmente importante num tempo em que as alterações climáticas ameaçam a biodiversidade.
Latas antigas como cápsulas do tempo
Além da conservação dos parasitas, o estudo conseguiu também preservar dados relevantes para futuras investigações sobre a saúde dos oceanos. Estas latas tornaram-se, assim, autênticas cápsulas do tempo.
Os cientistas envolvidos no estudo da revista Ecology and Evolution destacam que a investigação pode abrir caminho para novos métodos de monitorização ambiental. A análise de conservas antigas poderá vir a ser uma ferramenta útil para compreender o impacto das mudanças nos oceanos.
Parasitismo como sensor biológico
Chelsea Wood sublinha ainda que este tipo de parasitas pode funcionar como um “sensor biológico” extremamente eficaz. A sua existência depende de várias espécies, o que os torna excelentes indicadores da robustez de um ecossistema.
Evolução positiva ao longo das décadas
Mastick, outro dos autores do estudo, citado pelo AS acrescentou: “Ver que os seus números aumentam com o tempo, como sucedeu com o salmão rosado e o salmão chum, indica que estes parasitas encontraram os hospedeiros adequados e conseguiram reproduzir-se”.
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