As conversas informais são conduzidas pelo jornalista Henrique Dias Freire, diretor do jornal POSTAL, e pela Ana Burnay, da equipa do Centro Europe Direct Algarve. Deixamos nesta edição, o testemunho de mais uma deputada europeia, com alguns excertos e citações destas riquíssimas conversas que podem ser ouvidos na íntegra no site do postal.pt
À conversa com a eurodeputada comunista Sandra Pereira [15FEV2021], estiveram Henrique Dias, do Postal do Algarve, Ana Burnay do Europe Direct Algarve e Joelma Almeida, na qualidade de cidadã. Falámos sobretudo de mulheres e de trabalho com direitos e ficámos a conhecer três aspetos que definem a eurodeputada Sandra Pereira.
Neste momento, define-me também ser comunista – lutar por uma sociedade mais justa, por transformar a sociedade, para que não haja exploradores nem explorados
Alguma vez se imaginou deputada europeia?
Este é o meu primeiro mandato, não tinha exercido ainda qualquer cargo político, tinha feito parte de listas para o Poder Local. Estive sempre muito ativa na luta dos bolseiros de investigação e na direção da Associação de Bolseiros de investigação científica”, contra uma situação de “precaridade intensa”. Já estava próxima do PCP e filiei-me porque a luta me dizia muito. O PCP era o único que defendia a revogação do estatuto do bolseiro. Agora sou deputada, mas não consigo tirar a “camisola de bolseira”. Disse que sim à proposta do PCP para integrar a lista ao PE e aqui estou e voltarei para a Faculdade de Letras onde sou linguista, quando terminar o mandato.
Quem é a Sandra Pereira?
Há três coisas que me definem: sou serrana com uma ligação grande à terra e à natureza, a linguística e a investigação, e ser comunista – “lutar por uma sociedade mais justa sem exploradores nem explorados”.
Porque um Comité Especial sobre Inteligência artificial (IA)?
“Nas diferentes comissões a IA aparecia dispersa. Esta sub-comissão deveria durar apenas um ano, mas devido à situação pandémica deverá haver um prolongamento de 3 ou 6 meses. Pedimos uma audição sobre IA. O teletrabalho só é possível porque houve muitos avanços tecnológicos, mas por outro lado esse teletrabalho está a explorar ainda mais os trabalhadores, não conseguem desligar e têm mais despesa. Não se podem utilizar os avanços tecnológicos para reduzir postos trabalho. Aliviar a carga horária não pode implicar redução de salário, só assim teremos uma Europa mais resiliente que não deixe “muita gente para trás.”
E “não estamos todos no mesmo nível. Uma pequena empresa em Portugal não está ao mesmo nível na Alemanha. O que nos preocupa são os trabalhadores”.
Na saúde, por exemplo, a IA não dever servir para aprofundar o “mercado da saúde”, que abre porta à privatização do setor sem melhorar os serviços.
O caso do Algarve merece especial atenção?
“Os níveis de desemprego no Algarve são neste momento dos mais altos do país”. É uma região que merece toda a atenção da parte do Governo e da União Europeia. É muito dependente do turismo. Tentaremos intervir na questão do desemprego, que é um flagelo, para que os “fundos” cheguem às pessoas e as ajudem a enfrentar as dificuldades. No turismo sabemos que muitos trabalhos são precários. Há uma economia informal e paralela. O mesmo para micro-empresários como os da restauração. É preciso especial atenção para não aumentar os pobres a e exclusão social. Se há fundos europeu, que eles possam ajudar a pessoas a criar emprego com direitos.
Sobre a recente aprovação do Plano de Recuperação e Resiliência?
Para nós é fundamental saber quanto dinheiro vem para Portugal e como se vai gastar. O combate à precaridade e a criação de emprego com direitos seriam um sinal que o Estado português, na presidência do Conselho da União Europeia, daria aos outros países. Cada país tem que apresentar um programa de recuperação com as áreas que julga necessárias, mas o dinheiro vem, mas não vem livre de condicionalidades, uma vez que o Plano tem que ser aprovado pelas instituições europeias. A Ferrovia e o “emprego com direitos” deveriam ser prioridades do governo português.
Ano Europeu da Ferrovia
A ferrovia é um assunto acompanhado pela Comissão dos Transportes que acompanha o camarada João Ferreira. Debate-se aí também, por exemplo, a questão dos “slots no espaço aéreo” que, não estando agora a ser ocupados, é desejável que se mantenham para o futuro.
Que dossiers destacaria?
Na Comissão das mulheres debatemos o relatório dos direitos sexuais e reprodutivos. Em muitos países este é um dossier que tem gerado muita luta por parte das mulheres pelos métodos contracetivos, pelo acesso a consultas de ginecologia e pré-natal. É um dossier intenso. Em Portugal, a luta foi bem sucedida, mas noutros países estes direitos não chegaram a ser conseguidos. Na Eslováquia ou na Polónia estes direitos têm sido revertidos. Dinamizamos recentemente uma carta de apoio das mulheres portuguesas a esta luta na Polónia. Na Eslováquia estes direitos não foram revertido graças à luta das mulheres na rua. Sabendo que a saúde é uma competência dos Estados-membro, queremos valorizar em cada país a luta das mulheres pela sua saúde. A desregulação de horários de trabalho (nos supermercados por exemplo) é um tipo de “violência e é sempre a questão do “trabalho com direitos”. Defendemos o reforço dos serviços públicos, em particular do SNS, da escola pública, da segurança social. A covid expôs claramente que precisamos de investimento nos serviços públicos.
Como podem os cidadãos a contactar?
Podem contactar-me através do e-mail [email protected] e segui-nos nas contas de FB, IG e TW. Em breve teremos um podcast. Se os trabalhadores precisarem de nós, iremos de bom grado ouvi-los. Conhecendo a realidade, conseguimos intervir melhor sobre ela.
Pedimos à eurodeputada uma mensagem final
A minha mensagem é de esperança e luta contra os vínculos precários. Que esta situação sirva para mostrar a necessidade de reforço dos serviços públicos para estarmos todos mais protegidos em caso de crises futuras. O teletrabalho devia ser pensado num cenário muito excecional, sobretudo para as mulheres é um peso. Se houver maior proteção no emprego e melhores serviços púbicos estamos todos mais protegidos.