Há setores que foram, durante décadas, pilares importantes da economia e sustentaram muitas famílias, mas que hoje atravessam um período delicado. O envelhecimento da mão de obra, a falta de interesse das novas gerações e as exigências físicas de certas atividades manuais estão a criar um vazio difícil de colmatar, com impactos diretos na sociedade e no mercado laboral.
Durante anos, a construção foi um dos motores económicos em vários países europeus, mas o cenário transformou-se por completo. Atualmente, não só existe uma escassez evidente de habitações (que faz subir os preços) como também há falta de trabalhadores para as erguer.
Esta ausência de renovação geracional ameaça deixar o setor sem profissionais disponíveis, precisamente numa altura em que mais deles se necessita.
A idade média dos operários situa-se agora perto dos 45 anos, um aumento de cerca de oito anos desde 2007, sinal evidente do envelhecimento. O problema mantém-se: salários pouco competitivos para uma profissão altamente exigente do ponto de vista físico, como a construção.
Jornadas longas e cada vez menos apelativas
Manuel, pedreiro em Espanha com longos anos de experiência, não esconde a sua preocupação. Em entrevista ao telediário da Telecinco, citada pelo Noticias Trabajo, resumiu a realidade com uma frase: “Levanto-me às 5 da manhã e chego a casa às 8 da noite”. Para o trabalhador, os jovens não estão dispostos a enfrentar rotinas tão intensas, marcadas pelo calor, pelo sol e por uma exigência constante.
A escassez já obriga, em alguns casos, a aumentar horários, mas o futuro inquieta ainda mais. Apenas 10% dos trabalhadores têm menos de 30 anos e será essa minoria a assumir grande parte da responsabilidade quando a geração de Manuel se reformar.
Um setor sem substituição à vista
O próprio Manuel admite que a sua geração “é a última que fica nas obras” e que, infelizmente, “não há substituição”. Um retrato preocupante para um setor que ainda lida com as consequências da crise imobiliária de 2008, quando metade da mão de obra foi dispensada, segundo a mesma fonte.
De acordo com a Fundação Laboral de la Construcción e com a Confederação Nacional da Construção, cerca de 21,9% dos atuais profissionais deverá aposentar-se nos próximos 10 anos, agravando ainda mais o cenário.
Presença feminina continua reduzida
Outro desafio é a baixa participação das mulheres: apenas 8,9% dos trabalhadores são do género feminino. Exemplos como o de Emily, que se orgulha de ser pedreira, continuam a ser exceções num ofício tradicionalmente dominado por homens.
Como atrair mais jovens
A solução, segundo o Noticias Trabajo, passa por tornar a profissão mais interessante para os mais novos. Mostrar os benefícios do ofício e rever as condições salariais através de novas convenções coletivas pode ser o caminho para que as novas gerações assumam o lugar dos atuais operários.
Sem esse passo, o setor arrisca-se a enfrentar uma carência estrutural de mão de obra nos próximos anos.
Situação em Portugal
A construção em Portugal enfrenta um dos períodos mais críticos das últimas décadas, marcado por falta de mão de obra, envelhecimento dos profissionais e uma quase ausência de renovação geracional. A idade média dos trabalhadores é alta, enquanto a procura por habitação dispara e os preços continuam a subir devido à incapacidade de dar resposta às necessidades do mercado.
As condições exigentes do trabalho, jornadas prolongadas, remunerações pouco competitivas e a imagem pouco atrativa do setor afastam os jovens, que raramente escolhem a construção como carreira.
A solução passa por tornar a profissão mais apelativa através de melhores salários, formação especializada e incentivos para a entrada de novos profissionais. Sem estes esforços, Portugal arrisca aprofundar a escassez de mão de obra na construção, com impacto direto nos preços da habitação e na capacidade do país para executar obras públicas e privadas essenciais.
















