Cándida Jiménez trabalhou mais de quatro décadas, mas a reforma chegou antes do previsto e com um corte que não esperava. Aos 63 anos, a reformada espanhola decidiu deixar a profissão por motivos de saúde e acabou penalizada com uma redução de 13% na pensão, apesar de ter 44 anos e meio de descontos.
A antiga enfermeira espanhola contou o caso no canal AsJubi 40, um grupo de reformados espanhóis com longas carreiras contributivas que denuncia as penalizações aplicadas a quem se aposenta antes da idade legal. A sua história rapidamente se tornou símbolo de uma luta que junta milhares de pensionistas.
Segundo Cándida, a penalização é permanente e não termina ao atingir a idade normal de reforma. “Não é até aos 65 anos, é para sempre”, afirmou, explicando que o corte se mantém vitalício, independentemente dos motivos que a levaram a deixar o trabalho.
Penalizações que duram uma vida inteira
De acordo com o jornal El Español, o sistema espanhol prevê reduções automáticas para quem se reforma antecipadamente. O valor depende dos trimestres de antecipação e dos anos de descontos, variando entre 1,625% e 2% por trimestre. Quanto maior for o adiantamento, mais pesada é a penalização.
No caso de Cándida, os 13% de redução representam uma diferença de cerca de 200 a 300 euros mensais, valor que se traduz em mais de 3.000 euros por ano. O impacto financeiro é significativo e permanente, deixando-a com menos margem para suportar as despesas do dia a dia.
A reformada considera injusto que o Estado não distinga entre quem quer parar e quem é obrigado por motivos de saúde. “Depois de 44 anos de trabalho, sinto-me castigada em vez de reconhecida”, lamenta, recordando que muitos trabalhadores não escolhem reformar-se, são empurrados por limitações físicas.
Dois regimes, dois pesos e duas medidas
Segundo a mesma fonte, o que mais revolta Cándida e outros pensionistas é a diferença entre regimes. No sistema de Classes Passivas, aplicado a funcionários públicos, é possível reformar-se aos 60 anos com 35 anos de descontos e receber a totalidade da pensão. Já no regime geral, cortes como o seu são frequentes e irreversíveis.
Esta disparidade leva muitos reformados a falar de desigualdade. “Há cidadãos de primeira e de segunda”, afirmam os membros do AsJubi 40, movimento que exige uma revisão da lei e a eliminação dos coeficientes redutores para quem tem mais de 40 anos de carreira contributiva.
Segundo dados do Ministério da Inclusión, Seguridad Social y Migraciones, cerca de 27,6% das novas reformas em 2025 foram antecipadas. Isso significa quase 50 mil pensionistas penalizados, muitos deles com mais de 40 anos de descontos, que continuam a reclamar por justiça.
Uma luta que ganha força
Os coeficientes redutores foram criados para garantir a sustentabilidade do sistema de pensões, mas têm sido criticados por atingirem justamente quem mais contribuiu. Especialistas alertam que, a longo prazo, o modelo pode agravar desigualdades e deixar milhares de reformados em situação vulnerável.
Cándida não se resigna. “Não peço privilégios, peço justiça”, afirma, defendendo que o sistema deve reconhecer o esforço de quem trabalhou toda a vida e foi obrigado a sair antes. Para ela, a penalização vitalícia é uma “injustiça descomunal”.
O movimento AsJubi 40 promete continuar a lutar até que a lei seja alterada. Com o apoio de sindicatos e associações, pretende pressionar o Governo espanhol e o Parlamento para que ponham fim às penalizações aplicadas a quem cumpriu uma carreira completa.
Enquanto isso, e segundo o El Español, Cándida continua a representar o rosto de milhares de reformados que se sentem esquecidos por um sistema que devia proteger, e não punir, quem dedicou toda a vida ao trabalho.
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