A discussão sobre salários baixos em Portugal voltou ao centro do debate político depois de António Filipe, candidato presidencial, ter afirmado, numa entrevista à RTP, que não se conforma com a situação atual do país.
O candidato apontou diretamente para o que considera ser um dos maiores problemas estruturais: o facto de existirem “milhões de trabalhadores que não levam mil euros para casa” e que, por isso, acabam por “empobrecer a trabalhar”. A frase ganhou destaque e rapidamente foi questionada. Mas os dados oficiais mostram que, desta vez, a afirmação corresponde à realidade.
Segundo a publicação estatística mais recente da Segurança Social, relativa a agosto de 2025, existiam em Portugal 4.318.028 trabalhadores por conta de outrem, associados a 4.437.725 vínculos. Estes números foram citados pelo Polígrafo, que analisou a veracidade das declarações do candidato.
Dentro deste universo, mais de metade dos vínculos corresponde a remunerações base até mil euros brutos mensais. São 2.513.838 casos, um total que representa 56,6 por cento das relações laborais registadas.
Mais de metade dos trabalhadores ganha até mil euros brutos
De acordo com a mesma fonte, o escalão entre 801 e 1000 euros é o mais representativo, somando mais de dois milhões de vínculos em ambos os sexos. A tendência confirma que a grande maioria dos trabalhadores depende de salários que pouco ultrapassam o valor do salário mínimo nacional, mesmo em faixas etárias em que seria expectável maior progressão na carreira.
O relatório da Segurança Social permite ainda observar a distribuição dos rendimentos por região. Lisboa e Porto concentram a maior parte dos vínculos, mas não necessariamente os salários mais altos. Em vários distritos do interior, o peso dos trabalhadores com remunerações inferiores a mil euros é ainda maior.
Além disso, segundo a mesma publicação, as mulheres continuam a estar sobrerrepresentadas nos escalões mais baixos: no grupo até 600 euros mensais, a maioria é feminina.
Uma fotografia salarial que ajuda a contextualizar o debate político
Para além dos números agregados, o painel estatístico revela que apenas uma minoria ultrapassa os 1500 euros mensais. No intervalo entre 1501 e 2000 euros, há pouco mais de 400 mil vínculos.
Acima desse valor, os números diminuem de forma acentuada, o que mostra a fraca presença de salários médios e médios-altos em Portugal. Segundo a mesma fonte, isto evidencia uma estrutura laboral fortemente concentrada nos níveis mais baixos da tabela salarial.
Os dados ajudam a perceber porque é que a frase de António Filipe gerou impacto. Ao afirmar que há “milhões de trabalhadores que não levam mil euros para casa”, o candidato tocou num tema sensível para grande parte da população ativa.
A questão ultrapassa a política e entra no domínio do quotidiano, sobretudo num contexto de custos de vida elevados e de rendimentos que demoram a acompanhar essa evolução.
A afirmação confirma-se
Com base nos dados oficiais, e segundo a verificação realizada pelo Polígrafo, a afirmação do candidato presidencial é verdadeira.
Portugal continua a ter uma proporção muito elevada de trabalhadores a ganhar menos de mil euros brutos por mês, e isso representa um desafio significativo tanto para a economia como para a qualidade de vida de quem depende exclusivamente destes salários.
A análise deixa clara uma realidade que dificilmente pode ser ignorada no próximo ciclo político: mais de metade dos trabalhadores portugueses continua a receber rendimentos que não garantem plena estabilidade financeira, mesmo trabalhando a tempo inteiro. É um tema que promete manter-se no centro do debate.
















