Depois de mais de três décadas a ensinar francês, Joel decidiu aposentar-se aos 61 anos, pouco antes da lei que alterou a idade legal de reforma em França. Hoje em dia, o antigo professor, com uma pensão que considera “digna”, recorda o seu percurso com serenidade e partilha como é a vida após as aulas.
Joel passou mais de 30 anos a lecionar em colégios públicos na região parisiense, sobretudo no departamento de Essonne.
Trabalhou em zonas classificadas como REP+, territórios considerados de prioridade educativa devido à diversidade linguística e social dos alunos, o que lhe garantiu uma bonificação salarial. “Durante dez anos dei aulas na periferia, onde muitos alunos não tinham o francês como língua materna. Depois transferiram-me para um liceu em La Roche-sur-Yon, na Vendée”, contou ao jornal francês Le Figaro.
Uma carreira longa e um fecho simbólico
Recorda que a sua última aula foi dedicada à obra Bel-Ami, de Maupassant, com uma turma do oitavo ano. Diz, com nostalgia, que foi uma maneira simnólica de encerrar a sua carreira. Apesar de ter adorado ensinar, confessa que aguardava com entusiasmo o momento da reforma: “Tinha vontade de fazer outras coisas depois de tantos anos de ensino.”
No último posto auferia um salário bruto mensal de cerca de 3.200 euros, valor que incluía a bonificação por trabalhar em zonas prioritárias, correspondendo a 2.500 euros líquidos. Após a aposentação, o antigo professor passou a receber 2.700 euros brutos de pensão, aproximadamente 2.450 euros líquidos.
Aposentado, mas ainda professor
Joel reformou-se aos 61 anos, pouco antes da entrada em vigor da reforma das pensões em França, que aumentou a idade legal de 62 para 64 anos. Assim, escapou às novas regras. Hoje, continua ligado ao ensino através do voluntariado. “Dou aulas de francês a estrangeiros duas vezes por semana no centro comunitário local”, explica, citado pela mesma fonte.
Para o mesmo, este novo papel é mais livre e recompensador: “Ensino sem a pressão dos exames nem da burocracia. É gratificante ajudar adultos que querem aprender francês para se integrarem e encontrarem trabalho.” Pai de dois filhos já adultos, afirma viver agora “num ritmo mais tranquilo, mas ainda com o prazer de ensinar”.
O retrato de uma profissão exigente
Em França, o caso de Joel ilustra a realidade de muitos professores que, após longas carreiras no ensino público, conseguem uma reforma estável, mas sentem necessidade de manter-se ativos, refere ainda o Le Figaro.
A pensão deste antigo professor, embora confortável, reflete também o reconhecimento de décadas de serviço num sistema que valoriza o tempo de carreira e as zonas de maior complexidade social.
E em Portugal, como seria?
Em Portugal, a situação de um professor com perfil semelhante é regida pelo Estatuto da Aposentação (Decreto-Lei n.º 498/72) e pelo Regime de Proteção Social Convergente para funcionários públicos. No caso dos docentes admitidos até 31 de dezembro de 2025, a pensão é gerida pela Caixa Geral de Aposentações (CGA). A idade normal de aposentação situa-se nos 66 anos e 7 meses este ano, podendo antecipar-se mediante penalização por idade ou tempo de serviço insuficiente.
No nosso país, os docentes do ensino público integram a carreira especial docente, regulada pelo Estatuto da Carreira Docente. A progressão faz-se em dez escalões, consoante o tempo de serviço e a avaliação de desempenho. Em 2025, um professor de Secundário no topo da carreira (10.º escalão, índice 370) aufere cerca de 3.690 euros brutos mensais, enquanto os valores intermédios variam entre 2.700 e 3.400 euros brutos, aproximando-se dos rendimentos observados em França para funções equivalentes.
No momento da aposentação, a pensão é calculada com base nos anos de serviço e nas remunerações auferidas, sendo gerida pela Caixa Geral de Aposentações (CGA). Tal como em França, muitos docentes portugueses reformam-se antes do limite legal, aceitando reduções no valor da pensão para ganharem mais liberdade pessoal.
Um novo ciclo de vida
Joel resume o seu percurso com tranquilidade: “Trabalhei o suficiente para viver com dignidade e agora posso dedicar-me ao que me faz feliz.”
O seu testemunho é o espelho de uma geração de professores que, mesmo depois da reforma, continuam a encontrar sentido na partilha do conhecimento.
















