Uma expedição científica internacional coordenada por Portugal partiu esta sexta-feira de Lisboa para recolher novos dados e imagens da biodiversidade que povoa a maior montanha submarina portuguesa, a 240 quilómetros do Cabo de S. Vicente, no Algarve.
A missão, que termina em 28 de setembro e conta com chancela da Fundação Oceano Azul e de parceiros governamentais e institucionais, tem como destino o Banco de Gorringe, um maciço montanhoso com profundidades que variam entre os 5.000 metros, na sua base, e os 25 metros, na zona menos profunda.
Considerado um local de elevado interesse biológico e geológico, mas ainda pouco explorado, apesar das campanhas científicas realizadas no passado, o Banco de Gorringe é um “desencadeador muito importante” para acelerar em Portugal as medidas de proteção e gestão das áreas marinhas, segundo o coordenador-geral da expedição e administrador da Fundação Oceano Azul, Emanuel Gonçalves.
“Portugal é o principal detentor de biodiversidade marinha na Europa, mas não temos a correspondente proteção”, lamentou à Lusa.
A expedição, que envolve cerca de 50 cientistas de Portugal, Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, 30 dos quais a bordo de duas embarcações, visa sintetizar o conhecimento científico produzido sobre o Banco de Gorringe, agregando dados novos, divulgá-lo para “ganhar o apoio da sociedade para a proteção marinha” e “ativar os decisores para a adoção de medidas de proteção e gestão”.
Um relatório científico, com recomendações de ações, será publicado no primeiro trimestre de 2025 e um documentário sobre a expedição será exibido por essa altura.
Antes disso, no fim da expedição, serão divulgados resultados preliminares do trabalho feito.
O Banco de Gorringe concentra diversos ‘habitats’, uns mais perto da superfície e outros mais nas profundezas, como florestas de algas, jardins de corais, campos de esponjas ou cardumes de peixes, incluindo tubarões.
Classificado desde 2015 como área marinha protegida da Rede Natura 2000, o sítio está na rota migratória de baleias, golfinhos e tartarugas.
“Zonas remotas” como esta “são mais complexas de gerir”, reconhece o co-coordenador científico da expedição, Henrique Cabral, biólogo que trabalha em França, no Instituto Nacional de Investigação em Agricultura, Alimentação e Ambiente, salientando que o local está sujeito a “pressões várias”, como a pesca e a poluição.
Para os cientistas reunirem informação sobre a biodiversidade do Banco de Gorringe, do qual estão documentadas mais de 800 espécies, serão feitas observações à superfície e a maior profundidade e serão recolhidas amostras de água, fauna e flora para análise e identificação.
Durante o trabalho, que inclui filmagens e registos fotográficos, serão feitos mergulhos a profundidades variáveis entre 30 a 40 metros e serão utilizados ‘drones’, um sistema de câmaras de vídeo e um veículo subaquáticos controlados remotamente.
A expedição tem ao “leme” o emblemático veleiro Santa Maria Manuela, que pertenceu à frota bacalhoeira portuguesa e hoje é usado em viagens turísticas.
A embarcação parte junto com outra ao fim da manhã de hoje do Cais do Adamastor, no Parque das Nações, em Lisboa.
Uma outra embarcação, com saída de Portimão, irá juntar-se à expedição, com cientistas a bordo, assim como o navio D. Carlos I, do Instituto Hidrográfico, da Marinha, com trabalho em curso de bioacústica e cartografia dos fundos marinhos.
Recentemente, o navio fez o primeiro levantamento completo da extensão do Banco de Gorringe.
Além da Fundação Oceano Azul, na coordenação-geral, promovem a expedição o Oceanário de Lisboa, o Ministério do Ambiente e Energia, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a Marinha Portuguesa.
A iniciativa conta, ainda, com diversos parceiros institucionais e académicos, tanto nacionais como estrangeiros.
O Banco de Gorringe foi registado pela primeira vez em 1875 por Henry Gorringe, comandante do navio norte-americano Gettysburg, durante uma missão de mapeamento do fundo do oceano Atlântico.
Os picos principais são os montes submarinos Gettysburg e Ormonde, que chegam quase à superfície, permitindo a deposição de grandes comunidades de algas.
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