A notícia da reforma de Rita Piçarra aos 44 anos, ex-diretora financeira da Microsoft, levantou um debate sobre a viabilidade da reforma antecipada. No entanto, vale a pena esclarecer que Rita não se reformou no sentido tradicional, ou seja, não começou a receber uma pensão de velhice da segurança social. Em vez disso, optou por deixar de trabalhar, e essa escolha foi resultado de um planeamento meticuloso que se estendeu desde os seus vinte e poucos anos, visando a independência financeira.
Esta decisão encaixa-se no chamado “FIRE movement,” que significa “Financial Independence, Retire Early” (Independência Financeira, Reforma Antecipada). Ganhou força nas últimas décadas e, citando a DECO, vamos dar a conhecer este movimento que desafia a ideia convencional de que a reforma deve ocorrer aos sessenta e muitos anos.
O que é o “FIRE Movement”?
O movimento FIRE teve início em 1992, após o lançamento do livro “Your Money or Your Life” de Vicki Robin e Joe Dominguez.
O livro questiona a relação das pessoas com o dinheiro, se o emprego atual reflete seus valores e se possuem economias suficientes para sobreviver por seis meses sem trabalhar.
Para alcançar a independência financeira, os autores do livro sugerem nove passos, destacando a importância de gastar com propósito e intenção, em vez de consumir de forma descontrolada.
Aqueles que seguem o movimento FIRE procuram acumular riqueza de modo a cobrir as despesas e levar uma vida confortável sem a necessidade de continuar a trabalhar após os 55 anos.
Requer disciplina financeira, como comprar apenas o necessário, poupar o máximo possível (preferencialmente entre 50% e 70% do salário) e investir sabiamente em produtos financeiros a longo prazo com potencial de retorno interessante.
Regras do FIRE Movement
Uma das regras utilizadas é a “regra dos 25”, que consiste em determinar quanto será necessário para a reforma a cada ano e multiplicar esse valor por 25.
O valor resultante é o que deve ser poupado para uma reforma confortável. No entanto, a regra não considera a inflação, que pode diminuir o valor real ao longo do tempo.
Ao longo dos anos, surgiram variações do movimento FIRE, como o “Lean FIRE,” que promove uma vida frugal antes e depois da reforma; o “Barista FIRE,” que realça poupar mais cedo para trabalhar menos no futuro; o “Coast FIRE,” que procura investir o suficiente para que a carteira cresça o necessário para sustentar a reforma; e o “Fat FIRE,” que envolve ganhar e economizar o máximo possível para desfrutar de uma reforma confortável.
Prós e contras do movimento FIRE
O movimento FIRE oferece a possibilidade de desfrutar de mais tempo para si em uma idade em que a energia e a saúde estão em alta, possibilitando a realização de aventuras e experiências. No entanto, alcançar esses objetivos pode ser desafiador para aqueles com rendimentos mais baixos.
Independentemente dos objetivos, ter um plano de reforma é aconselhável. O Ageing Report da Comissão Europeia alerta que, em 2050, as pensões em Portugal corresponderão a apenas 50% do último salário.
Leia também: Reforma-se aos 44 anos: “Poupei para ter tempo para mim e não para o dividir com uma empresa”