
O Plano de Pormenor da zona histórica de Olhão foi esta terça-feira defendido pelos seus promotores como um “documento aberto, sujeito a discussão pública” e que “pode ser melhorado”, mas a contestação popular marcou a apresentação pública realizada na cidade algarvia.
Questões como uma maior dimensão de edifícios, a salvaguarda de edificações históricas e típicas ou a construção de uma torre de 21 metros foram contestadas pela plateia de cerca de uma centena de pessoas, muitas delas estrangeiras residentes na cidade, que esta terça-feira assistiu à apresentação pública com a equipa que realizou o Plano de Pormenor, realizada na biblioteca municipal de Olhão.
A equipa da Baixa Atelier, escritório de arquitectura que elaborou o plano, focou os principais pontos do documento, que visa “salvaguardar as características arquitectónicas dos edifícios” da zona histórica, sobretudo dos bairros mais tradicionais da Barreta e Levante, com intervenções no espaço público que permitam “colocar as infra-estruturas nas novas exigências do século XXI” e definindo “regras claras” para a intervenção nos imóveis privados, segundo o arquitecto Pedro Vara.
Para alcançar este último objectivo, o Plano prevê a abertura das ruas para colocar debaixo do solo todas as infra-estruturas de águas, esgotos e telecomunicações, a criação de novas dinâmicas na actividade económica de algumas zonas da zona histórica e abertura de possibilidades de financiamento através de candidaturas a fundos para a requalificação do imobiliário privado.
O presidente da Câmara, António Pina, também tomou a palavra para dizer que o Plano “ainda está em elaboração e consulta pública”, pode ser alterado e não é definitivo, mas procura abrir um novo tempo no centro histórico, criando condições para a sua preservação.
“Tenho visto muitas críticas nas redes sociais, algumas delas com pouca verdade, e para isso trouxemos aqui a equipa que realizou o plano para que possa ser discutido pela população e ser melhorado”, afirmou António Pina.
Mas as críticas sucederam-se na fase de debate, com alguns dos intervenientes a suscitarem questões como a falta de conservação da identidade arquitectónica cubista própria de Olhão, a criação de uma torre sobredimensionada e a levantarem dúvidas sobre a preservação de calçadas típicas ou de elementos como açoteias, mirantes e contra-mirantes, característicos da cidade.
Horta Correia foi um dos presentes que tomou a palavra e lamentou que regras da casa cubista típica de Olhão não tenham sido preservadas e que o Plano não tenha em conta a especificidade da zona histórica de Olhão.
As fachadas e a sua alteração em dimensão também foi abordada pelos participantes, com alguns dos presentes a questionar a possibilidade de as cérceas serem alteradas sem respeitar as distâncias para açoteias e mirantes já existentes.
Mas as principais críticas surgiram com a ideia de criação de uma torre com miradouro, num local onde existe um edifício camarário do século XVIII, que mereceu a contestação ruidosa da plateia cada vez que era mencionado.
“Isso não faz sentido e tem que ser abandonada essa ideia”, defendeu um dos olhanenses presentes na apresentação e debate, que se prolongou durante mais de duas horas e meia.
(Agência Lusa)