Teodomiro Cabrita Neto, uma das figuras mais marcantes da cultura e historiografia algarvia, faleceu esta terça-feira, 11 de novembro, aos 92 anos, no Hospital de Faro. Natural de São Bartolomeu de Messines, no concelho de Silves, nasceu a 20 de setembro de 1933 e viria a tornar-se um dos mais prestigiados historiadores dedicados ao estudo da região, em especial da cidade de Faro.
Homem multifacetado, Teodomiro Neto distinguiu-se como historiador, dramaturgo, ensaísta, jornalista e professor, deixando uma obra vasta que contribuiu para a compreensão e valorização do património histórico, artístico, social e político do Algarve. O jornal Folha de Domingo, onde colaborou durante décadas, recorda que foi “um homem das letras, das artes, da história, da cultura”.
Aos 16 anos mudou-se para Faro para completar os estudos, trabalhando durante o dia e estudando à noite. Foi leitor na Aliança Francesa, explicador e, em 1958, iniciou colaboração como publicista no semanário O Algarve, graças ao contacto com Arnaldo Vilhena, médico e intelectual opositor do Estado Novo. A partir de 1992 integrou também a redacção do Folha do Domingo, a convite do então diretor, o cónego Clementino Pinto, colaboração que manteve até há cerca de dois anos, quando o seu estado de saúde se agravou.
Alvo da censura do regime, viu-se obrigado a abandonar o país em 1962. Viveu em várias cidades europeias e do Norte de África — Genebra, Paris, Lyon, Saint-Étienne, Bruxelas, Siracusa, Varsóvia e Tunes — onde concluiu a licenciatura em História e o doutoramento em História Política Europeia. Nesse percurso, privou com figuras como Pablo Neruda, Simone e Hélène de Beauvoir, Jean Dasté, Pablo Picasso ou Carlos Porfírio.
Em França desenvolveu intensa atividade literária e jornalística, escrevendo para La Gazette de Genève, L’Espoir e Aujourd’hui, e publicando as suas primeiras obras em francês. Em Portugal, regressado após o 25 de Abril, dividiu a vida entre Faro e Saint-Étienne, lecionando até à jubilação e mantendo uma forte ligação à imprensa regional e aos estudos históricos. Entre 1977 e 2009 colaborou regularmente nos Anais do Município de Faro, além da publicação de cerca de 30 obras em português, francês, inglês e alemão.
Da sua bibliografia destacam-se títulos como O Último Concerto de Maria Campina (1988), Carlos Porfírio na pintura contemporânea algarvia (1992), Café Aliança (1995 e 2008), Faro no Verbo Amar (1998), Teatro na História do Algarve (2007) ou Faro: Romana, Árabe e Cristã (2009). No teatro, escreveu e viu representadas peças como La Nuit de Marie Dumas ou Appassionata, colaborando ainda com o grupo messinense Penedo Grande.
Foi distinguido com vários prémios, entre os quais o Prémio Nacional do Teatro, o Prémio de Imprensa Samuel Gacon, o Prémio Infante D. Henrique, o Prémio Internacional de Imprensa e o Prix Antoine Guichard. Em 1993, a Câmara Municipal de Faro atribuiu-lhe a Medalha de Mérito – Grau Ouro. A Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines homenageou-o em 2009 e, em 2019, atribuiu o seu nome a uma rua da vila.
Profundo defensor do património, foi um dos primeiros e mais persistentes promotores da criação da Universidade do Algarve, tema sobre o qual publicou “dezenas de entrevistas”, segundo recorda o jornal Folha de Domingo. Defendeu igualmente a criação de um Museu da Imprensa em Faro, considerando a importância histórica da cidade na introdução da tipografia em Portugal.
Continuou ativo até à fase final da vida, como conferencista, escritor, jornalista e estudioso, sempre comprometido com a divulgação da cultura algarvia e do legado de figuras ilustres como António Ramos Rosa, Cândido Guerreiro, João Lúcio, Mário Lyster Franco, Emiliano da Costa ou Manuel Martins.
Teodomiro Neto era casado, pai de três filhos e avô de quatro netos.
O funeral realiza-se na próxima sexta-feira, 14 de novembro, às 10:30, na igreja nova de São Luís, em Faro, seguindo o corpo para sepultamento no Cemitério Novo da cidade.
















