Longe vai a época em que, no jogo da sedução, apenas os machos eram caçadores e só as fêmeas equivaliam a presas. Longe vão os tempos, na sociedade ocidental, em que o pudor e o recato eram atributos assumidos, inquestionáveis.
Está bem, admito. Ser mulher não é fácil; estamos sujeitas a pressões, somos mais vulneráveis à violência física, emocional e sexual, e isto já para não falar nos rótulos que constantemente nos colam ou no julgamento social que, em comparação com os homens, é sobre nós bem mais duro.
Mas ser homem agora, parece-me, não deve ser muito mais fácil do que existir como mulher, sobretudo no que toca à confusa arte em que a sedução se tornou.
Fosse eu homem por uns tempos (e já que num universo paralelo, solteiro também) e andaria completamente à nora! Como poderia eu saber que a mulher que me estava a olhar sedutoramente num bar, com os lábios a tocar lascivamente no copo, apenas pretendia isso mesmo: seduzir-me sem mais desejos? E se ela continuasse a bambolear as curvas diante do meu olhar babado, me continuasse a fixar com olhos de matadora e acedesse a ir passar a noite comigo demonstrando a alegria saltitante de quem está prestes a receber uma dádiva dos deuses? Como me sentiria depois, perante um repentino arrependimento/mudança de planos? Defraudado, no mínimo, por ter que terminar a sós o que fora incendiado a dois. Pior: o que sentiria se, depois de aprazíveis momentos, me fosse imputada a culpa de ter forçado algo que fora consensual?
No caso que a fotografia ilustra não sei o que se passou, embora possa imaginar.
O que sei é que, fosse eu homem solteiro, levaria sempre na carteira um outro protector tão eficaz quanto os preservativos: um formulário a assinar pelas eventuais felizardas que quisessem cruzar o meu caminho.