Sem saber como, dou por mim a fazer uma road trip de três dias pelas estradas da Sardenha. Não que isso me chateie muito…
Pelo contrário! Até porque Adoro conduzir e recebo como uma dádiva todos os pensamentos que apenas a minha companhia permite.
Só que, estar a sós, implica tomar todas as decisões. Implica saber para onde vamos ou, pelo menos, para onde pretendemos ir. Implica não poder beber nem um copo até que se estacione o carro até ao dia seguinte. Implica encostar na berma vezes sem conta para se tirar a tal foto que nunca (enervante, isto!) mas nunca mesmo, capta a beleza da paisagem nem o que ela nos transmitiu. Implica garantir sempre que a banda sonora está a fazer jus à paisagem…
Mas deter o leme (desculpem, a alma de navegadora vem sempre aqui bater) sem qualquer outra interferência, é um privilégio a que poucos se dão ao trabalho/luxo em desconhecidos territórios.
E hoje, enquanto saboreava paisagens, entre curvas e retas, dei por mim a pensar no me dizia o avô João: “Nas auto-estradas não se conhece nada; quanto mais estreito o caminho, mais terá para te ensinar…”
O problema é que a malta, na urgência dos destinos, se esquece da história de Ítaca e no quanto o caminho importa mais do que a própria chegada.
Adoro estradas, veículos, conduzir. Mas gosto sobretudo dos caminhos que me aproximam mais da paisagem, das gentes, dos cheiros e sensações.
É para isto que servem as road trips, se calhar: para nos devolver a certeza daquilo que realmente importa.