O estado dos nossos espaços verdes
Uma cidade que se pretenda equilibrada ambientalmente requer um rácio adequado de Espaços Verdes por Habitante, o que gera uma questão interessante, qual é o mecanismo de controlo que possuímos para avaliar se estamos no bom caminho neste âmbito?
O único mecanismo em termos de PDM que existe é apenas as cedências para Espaços Verdes aquando de um loteamento ou uma operação urbanística de impacte relevante. Na elaboração de um PP ou de um PU, serão permitidas afetações superiores do definido na portaria que atribui os parâmetros urbanísticos para este tipo de espaços. Porém, a maioria pela falta de qualidade, tantas vezes, não se tornam operacionais, o que resulta num maior descrédito do planeamento.
Na gestão corrente de uma autarquia, os espaços verdes são sempre um custo elevado, ao qual nem sempre se dá a atenção devida, ou nem sempre são supervisionadas por técnicos devidamente qualificados, gerando, por vezes, fracos resultados operacionais.
Porém, será facilmente compreendido que a qualidade de uma cidade, para além do seu Património Arquitetónico também se avalia pela sua qualidade paisagística e, logo também pelos seus Espaços Verdes.
Qual é o Estado dos nossos Espaços Verdes Urbanos? É uma avaliação que ainda está por fazer numa cidade como Faro, não existindo uma plataforma informática ou um investimento sério nessa temática que possa monitorizar a sua evolução ao longo do tempo.
A perceção do cidadão comum é que estamos mais reduzidos, porque visualiza-se um maior corte, ou porque não temos uma nova área verde significativa, possuindo apenas intervenções pontuais. Porém, não existe um método científico que possa dar uma resposta segura sobre qual a evolução da nossa cidade no que diz respeito ao aumento ou diminuição dos seus espaços verdes ou até das suas espécies arbóreas.
Valorização dos nossos espaços verdes
A valorização dos nossos espaços verdes é uma necessidade premente, face a todos os riscos de alterações climáticas e face aos efeitos de aumento de temperatura já evidentes de ano para ano.
As áreas verdes das cidades são espaços de tranquilidade e de bem estar para a população, que muitas vezes estão também associadas ao desporto informal. As questões de ambiente passam ainda pela manutenção deste tipo de espaços, sendo imperioso da parte das autarquias, o cuidar e recuperar o que já se encontra perdido, sob pena de destruir todo um investimento.
Tive o privilégio de trabalhar para o desenvolvimento do Parque Ribeirinho de Faro, que apesar de todas as contrariedades foi conseguido. Seria bastante interessante conseguir prolongá-lo para a outra margem e levá-lo mais longe.
A valorização dos nossos espaços verdes é também conseguida pela replantação e alteração para espécies autóctones mais adaptadas ao nosso clima, assim como pela alteração de paradigma da redução dos pequenos canteiros para uma conceção de espaços com dimensão significativa que permita a sua fruição.
A utilização de uma eficiente rede de rega associado à monitorização e controlo por sensores são uma valia da tecnologia atual que permite grandes poupanças de água e de energia. Esta é uma vertente das cidades inteligentes que não foi ainda explorada devidamente, sendo, no entanto, os privados que promovem nos seus espaços mais contidos, os primeiros projetos pilotos.
Reflexão sobre o nosso jardim de criança
Quem não se lembra de visitar um parque em criança e a satisfação de percorrer livremente em harmonia com o ambiente? Como é possível esquecer o momento de contacto com a Natureza?
Todos necessitamos do nosso jardim de criança, que fique no imaginário, para sempre, como um espaço pleno de felicidade e de sã convivência entre gerações.
Estes jardins podem existir por bairros ou por unidades funcionais, de forma mais natural em áreas mais amplas, mas regulares, sem que seja só num ou dois locais numa cidade. O planeamento deveria ajudar a que este tipo de ambientes fosse criado, porém, é complicado quando tudo depende unicamente do loteamento.
Os investimentos em áreas de maior dimensão exigem iniciativa pública, e um trabalhar a longo prazo, que tantas vezes não é compatível, com os mandatos autárquicos ou mesmo com as regras do sistema de hoje. As propostas são fortes nos Planos de Pormenor, mas o equilíbrio financeiro das suas realizações é débil, pelo que à mínima crise fica-se paralisado.
É urgente planear para um futuro mais verde, mas coerente, com um sistema urbano inteiro e funcional. Disso, irá depender a qualidade de vida das populações das nossas cidades.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de maio)
(CM)