Preparar os territórios para uma crise energética
O consumo de energia eléctrica em Portugal cresce de dia para dia, acompanhando o mundo dito civilizado. A produção interna, sendo inferior ao consumo, torna o país dependente do seu exterior no fornecimento da mesma. Em termos agrícolas ou até industriais, o produto energético mais utilizado ainda se baseia nos combustíveis fósseis por serem mais acessíveis ou até mais cómodos na sua utilização.
Quais os desígnios que temos para melhorar a nossa independência energética, e quais os impactos ambientais que realmente temos capacidade ou queremos suportar?
Os governos, embora possam estar estimulados para o carro eléctrico, não criaram o estímulo à produção de micro-instalações locais, com uma proximidade entre o produtor e o consumidor, melhorando os seus incentivos para a sustentabilidade energética. Seria assim de integrar as instalações de painéis fotovoltaicos nos edifícios habitacionais, criando um espaço mais amigável à conexão com a rede geral de electricidade.
Mas os interesses eventualmente das grandes poderosas da energia, nomeadamente da sua distribuição, poderão não aconselhar tal independência. Esses gigantes, que neste momento já estão nas mãos de entidades estrangeiras, com objetivos um pouco mais afastados que os interesses nacionais.
Os recursos naturais ao nosso dispor
Escusado será referir que o sol é uma fonte inesgotável de energia, a qual no país e no Algarve, em especial, poderia ser aproveitada a uma escala muito superior. A energia solar é a mais natural das nossas fontes energéticas, pelo que a experiência piloto em zonas mais isoladas, como a Ilha da Culatra, faz todo o sentido.
Para além desta, temos também os nossos rios e ribeiras, que poderão ser também utilizados como fonte energética pela construção de barragens que em tempos de seca ou de extremos climáticos constituem reservas importantíssimas.
O mar e a Universidade do Algarve, com essa imensidão de energia, seria uma ótima aliança no campo das energias, faltando apenas o impulso e o investimento para dar o passo em frente na concretização da produção de energia elétrica a partir do movimento das ondas.
Tudo isto são recursos já conhecidos, mas pouco implementados, o que nos leva a questionar sobre qual o propósito do investimento público, que não existe ou escasseia.
Ações simbólicas
Remete-se, pois, para o simbólico, como a Hora do Planeta, na qual no meu tempo de executivo se desligaram algumas praças e monumentos, numa forma de chamada de atenção para o problema energético. Esta semana, mais uma vez, ocorreu por todas as cidades do mundo, existindo um cada vez maior número de aderentes.
Outra ação simbólica, foi a colocação de um veículo eléctrico de transporte de passageiros na Rede Próximo, em Faro, o que é apenas mais um sinal positivo.
Porém, seria ainda mais positivo passarmos a construir consciências mais abertas e criarmos políticas assertivas de ambiente, sem meras retóricas, construtivas do ponto de vista até fiscal, para a criação de melhorias nas nossas habitações.
As questões energéticas são vitais para o funcionamento de um país, não devendo ser apenas reparos pontuais, mas objeto de uma discussão séria e madura.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de abril)