As efemérides podem originar momentos de interesse, relançar ou propor novas ideias e projectos. Foi o que aconteceu no sul da Península Ibérica, em Isla Cristina, a 2 de Fevereiro, no magnífico espaço “Garum”, Centro de Inovação e Tecnologia da Pesca.
Organizadas pela GECA – Gestores Culturais de Andalucia dezenas de gestores culturais espanhóis e portugueses reuniram-se nas “Jornadas 20+10”, que celebraram uma década de cooperação cultural transfronteiriça e também os 20 anos da GECA e os 10 anos da AGECAL, conferência apadrinhada pelo Ayuntamiento de Isla Cristina e com apoio da Junta da Andalucia.
Da parte espanhola foi salientada a maior atenção à Gestão Cultural por parte das Universidades e do Ministerio da Cultura de Espanha, patente na presença do ministro da Cultura nas recentes jornadas profissionais em Almeria. A Espanha, além de dezenas de Pós- Graduações e Mestrados, possui já licenciaturas em Gestão Cultural nas Universidades de Huelva e Córdoba, e irá abrir muito brevemente outra em Lugo.
As intervenções e reflexões produzidas ao longo do dia salientaram a importância da cultura para ambos os países, o valor espiritual-simbólico e económico da mesma num mundo em processo de globalização, também da necessidade, no âmbito das políticas culturais públicas, de preparar profissionais com boa formação teórico-prática capazes de analisar e acompanhar os complexos processos de desenvolvimento cultural, acção a articular com as universidades e politécnicos e associações socioprofissionais.
A Gestão Cultural é uma ciência de formação recente, corresponde à evolução do pensamento nas sociedades contemporâneas, necessidade de investigação aplicada nos domínios da cultura e necessidade de melhorar a gestão dos recursos culturais em cada região ou País. A GC tem componentes experimentais e práticas que deverão ser acompanhadas do estudo de disciplinas fundamentais como a História Cultural, Economia da Cultura, Direito da Cultura, Sociologia da Cultura e das Artes, Metodologias e Tecnicas, Tecnologias de Informação,…
O caso português foi apresentado com informação estatística e reflexão sobre os vários domínios: balança comercial dos bens culturais, património, museus, bibliotecas, cinema, teatro, música…
A dependência e fragilidade da economia da cultura dos países do Sul da Europa em relação à produção cultural de outras origens, nomeadamente anglo-saxónica, carece de políticas culturais e educativas que transmitam e valorizem a riquíssima cultura mediterrânica, a sua capacidade criativa e inovadora.
Apesar do reequipamento de muitas cidades e maior atenção ao património, o peso da cultura no Orçamento Geral do Estado não reflecte a importância da língua e cultura portuguesa no mundo, nem as necessidades de desenvolvimento do País, aliados fundamentais no combate à desertificação e às assimetrias regionais.
Foi referido por académicos e profissionais a preocupação com a tentativa política de criar artificialmente uma “identidade europeia”, contrária aos interesses da própria construção do projecto europeu ao abrir espaço a fenómenos negativos. A turistificação e festivalização excessivas foram também alguns dos problemas referidos.
Foram ainda apresentadas diversas experiências de Gestão Cultural inclusiva, projectos na museologia e editoriais, protecção das actividades artesanais, rota dos castelos e do legado Andalusi, salvaguarda das salinas históricas, entre outros.
À AGECAL foi atribuído um Prémio de reconhecimento pelo trabalho de dez anos de Cooperação Transfronteiriça entre a Andaluzia e o Algarve. As associações presentes irão continuar o trabalho conjunto.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Fevereiro)