Museus para quem? A pergunta hoje já não é um museu para quê? Posicionando-nos do lado de lá, perguntamos – museus para quem? Resposta fácil: Para todos!
Quer isto dizer que nos preocupamos com as audiências dos nossos museus? Conhecemos aqueles que nos visitam? E os que não nos visitam? Sabemos porquê?
Quantas vezes nos detivemos a pensar se há espaço para todos nos nossos museus?
Porque quereria alguém ir a um espaço ou lugar que não se importa com as suas origens, as suas motivações ou limitações?
Os museus devem refletir a sociedade e são hoje assumidos publicamente como instrumentos principais de desenvolvimento. Uma ideia repetidamente afirmada, mas como está isso a acontecer? É interlocutor das preocupações da comunidade? É um disseminador de práticas? Entre muitas outras questões, podemos questionar por exemplo, se o multiculturalismo do nosso Algarve está refletido nas nossas ações?
É de facto muito relevante termos estas oportunidades de partilha e reflexão. Cabe-nos a cada um de nós colocar questões sobre as verdades instituídas, chamar a atenção para os actuais desafios societais, evocar as vozes esquecidas.
Há na actualidade um trabalho muito próximo das comunidades locais e tem sido crescente o diálogo com os públicos.
Nestes processos gostava de chamar a atenção para a comunicação e para a educação como elementos críticos. É muito importante que todo o material utilizado e recolhido seja avaliado e bem trabalhado. Há muitas questões que surgem nesta abordagem – quais são os benefícios gerados pela coleção, pela exposição e pelo museu para as suas comunidades? Como promover a interação?
Sabemos como falta tempo para avaliar o que se faz, mas é hoje também fundamental integrar a investigação no dia a dia do museu. A operação diária dificulta esta integração, mas há que a inserir nas prioridades.
Os museus não devem ser só espaços onde nos sentimos bem
Tal como refiro num texto académico em vias de publicação, numa referência a Theresa McNichol de 2005 – cada museu tem que estabelecer a sua comunidade (em sentido lato) e tomar as decisões baseadas em reciprocidade, convidando a um envolvimento participativo e construindo assim o seu museu memorável1.
Francesco Manacorda, Diretor Artístico da Tate Liverpool, por exemplo, defende uma abordagem de co-autoria com as audiências da sua galeria e procura um aumento deliberado da cooperação com o público, desenhando e “escrevendo” exposições que encorajem os seus próprios públicos para uma relação de co-criação ou co-produção das exposições. Claramente diferenciadora esta abordagem daquela do autor e do intérprete, e apontando para uma pedagogia emancipatória, que recoloca o museu numa abordagem conduzida pela missão educativa.
A produção do conhecimento faz- -se assim ativamente com o público. Será que estamos neste postulado? Será que desejamos esta interação? Que estratégias se podem prosseguir neste sentido?
Estas são algumas das discussões que foram agendadas nas II Jornadas dos Museus do Algarve. Verifica-se uma enorme abertura ao exterior, mas os museus não devem só ser espaços onde todos nos sentimos bem e devem assumir o seu papel, de protagonistas e agentes da mudança social, e de justiça.
1 McNichol, T. (2005) “Creative marketing strategies in small museums: up close and innovative”. International Journal of Nonprofit& Voluntary sector, 10, pp-239-247.
Alexandra Rodrigues Gonçalves
(Diretora Regional de Cultura do Algarve)
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Dezembro)