Ter sido o professor doutorado mais jovem da universidade do algarve fez de si um professor diferente?
Penso que não. Consegui chegar ao topo da carreira universitária com 36 anos de idade, mas acredito que tenho mantido sempre as principais características que me costumam ser atribuídas por quem me conhece, como sejam a humildade, o respeito pelos outros e o esforço para fazer sempre o melhor que sei e que posso.
Aliás, desde criança que uma das minhas características é fazer desde logo o que tem que ser feito, não deixando para mais tarde. Por exemplo, na escola primária fazia durante a primeira semana de férias todos os “trabalhos de casa” (TPC) que a professora indicava para serem feitos durante todo o Verão.
A psicologia é uma ciência de reconhecida utilidade nas sociedades modernas. Ainda é uma profissão à procura de identidade?
Penso que a Psicologia conseguiu já o reconhecimento dos seus benefícios por parte da maioria das pessoas na nossa sociedade.
Em todo o caso, por vezes ainda se pensa que a Psicologia só serve quando as pessoas estão em situação de doença mental ou em situações negativas da sua vida, mas atualmente predomina a Psicologia Positiva, podendo ser sempre otimizado o funcionamento de qualquer pessoa em relação a qualquer competência, desde que o próprio esteja motivado nesse sentido. É quase como correr 100 metros. Todos conseguimos faze-lo, mas mesmo os que correm mais depressa poderão vir a correr ainda mais rapidamente se treinarem adequadamente nesse sentido.
Que conselho do seu pai lhe alicerçou a vida?
Destacaria dois conselhos: nada se consegue sem esforço e também saber valorizar a amizade, quase no sentido de que se queremos fazer depressa podemos fazer sozinhos, mas se queremos chegar mais longe, temos que fazer com os outros.
Das homenagens e distinções que recebeu, qual foi a que mais o sensibilizou?
Felizmente já tive muitas manifestações formais e informais de reconhecimento ao longo do meu percurso. Mas talvez aquela que mais me sensibilizou tenha sido ter ganho o Prémio Rui Grácio em 1996. Este Prémio era atribuído anualmente pela Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, com o alto patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, e traduziu o reconhecimento do livro intitulado “A motivação dos professores”, escrito com base na minha tese de doutoramento.
Como se cativa o estudante para a cultura quando as necessidades são de outra ordem?
Parece-me que os jovens apreciam cultura, pois gostam de música e de espetáculos de uma forma geral; podem é os produtos culturais que eles apreciam não coincidir com aqueles que a minha geração aprecia. O importante é sabemos aproximar-nos daquilo que os jovens gostam e depois fazer as pontes, estabelecer as relações com aquilo que gostávamos que eles também apreciassem.
Esta parece-me ser a abordagem mais adequada e que até permite resolver muitas das situações do designado “conflito de gerações”. Em todo o caso, nunca há apenas uma forma de motivar, pois a motivação é sempre muito pessoal e aquilo que resulta com uns pode não resultar com outros.
A arte não tem necessariamente de questionar?
Nas artes visuais, eu aprecio a arte que questiona ou que nos ajuda a questionar, fazendo uso do poder da imagem. No entanto, a arte pode ser apreciada e fruída sem ter necessariamente que questionar. Tudo depende se é mais dirigida à dimensão cognitiva ou à dimensão emocional de quem a aprecia.
Um artista é a soma das suas circunstâncias ou a arte pode ser uma mentira?
Entendo a arte sobretudo como uma forma de comunicação, não tendo as obras de arte que ser esteticamente belas, ou emocionalmente profundas. Nesta perspetiva, a arte deve ser apreciada, não só olhando, mas procurando compreender o sentido e o contexto da sua realização. É a história ou o percurso de cada artista, a persistência e a consistência do seu trabalho, que pode permitir inferir a sua identidade e a dimensão artística daquilo que realiza.
Encontra saciedade na criação?
O homem é orientado para o futuro, pelo que a criação de algo, seja nas artes visuais, seja na ciência, seja noutras facetas da vida, é um processo em constante emergência. A satisfação com as realizações concretizadas costuma ser apenas de curto prazo, sendo a curiosidade e a criatividade sustentadas pela motivação intrínseca, que podem permitir uma satisfação mais consistente e duradoura.
Que balanço faz do seu primeiro ano como Vice-Reitor para a Educação e Cultura?
Faço um balanço bastante positivo pois, não obstante o elevado volume de trabalho que tenho tido, tem sido uma experiência muito rica. Além disso, sinto que estou a contribuir para o desenvolvimento da Universidade do Algarve, em particular ao nível das relações com a comunidade, da inovação pedagógica dos professores, da integração e do sucesso académico dos estudantes, bem como na construção duma UAlg cada vez mais saudável.
Quais são as suas perspetivas durante o seu mandato?
Há e haverá sempre muito para fazer, novos objetivos para concretizar, mas com elevada motivação, espírito de missão, otimismo realista e empenho constante, procurarei continuar a trabalhar e a servir a UAlg, tentando fazer sempre cada vez mais e melhor, ouvindo os colegas, os estudantes e a comunidade.
Com a liderança do atual Reitor e com a equipa reitoral coesa, acredito que, em conjunto, iremos conseguir “deixar obra”.
A Pergunta ao entrevistador
Saúl Neves de Jesus: De que forma é que a Universidade do Algarve e o Cultura.Sul poderiam colaborar mais para a promoção da cultura na região?
Henrique Dias Freire: Pelo papel intrínseco de cada um, parece-me um passo natural estabelecer parcerias entre ambas as entidades de forma a potenciar e criar “pontes” para a promoção da cultura na região. Acredito que a vontade seja recíproca. Como primeiro passo, parece-me recomendável identificar e nomear o interlocutor directo de ambas as partes e prosseguir com um plano de acção. Da parte do Cultura.Sul estou pessoalmente disponível.
Escolhas da Minha Vida!
O Filme: “O Clube dos Poetas Mortos”
A Obra de arte: “Sonho causado pelo voo de uma abelha ao redor de uma romã um segundo antes de acordar” (Salvador Dali, 1944)
O Prato: Sushi
A Localidade: Ilha da Armona
A Frase: “O caminho faz-se caminhando”, do poeta espanhol António Caetano, à qual acrescentaria “Onde há vontade há um caminho”, de Albert Einstein.
A paixão: Animais de estimação
Político(a): Barack Obama
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Dezembro)