O estado da arte na mobilidade no Algarve
Quem ainda se lembra do isolamento do nosso Algarve, da viagem de dia inteiro para chegar a Lisboa, e o quanto era difícil atravessar a serra do Caldeirão? De facto, estamos destinados a ser uma região propositadamente periférica e sem investimento substancial na melhoria das infraestruturas de transporte. O sistema ferroviário, muitas vezes desconexo com os centros urbanos, possui material circulante antigo e degradado, com falhas constantes de horário. A população que não tem alternativa e necessita de transporte para vir a Faro, sacrifica-se todos os dias, pela falta de conforto e ainda pela incerteza do sucesso da sua viagem.
No que diz respeito às infraestruturas rodoviárias, fica-se com a sensação da promessa incumprida, da injusta política de falta de coesão nacional. Continua-se com a falta das circulares à EN 125 nalguns dos principais aglomerados, como Olhão, para além das já famosas portagens da Via do Infante, que atrofiam a nossa economia e concentram o tráfego na EN 125. Quem pode solicitar aos munícipes que aliviem o uso do veículo automóvel, se não temos metros, nem comboios, nem sequer espaços canais de autocarros que permitam criar a alternativa?
A ligação da ferrovia ou algo semelhante do tipo metro ao aeroporto, sendo uma decisão fundamentada pela sua importância numa região turística, parece sempre uma opção distante, e julga-se que afinal até não seria necessária!
Ligação ao ordenamento do território
O Algarve possui um povoamento disperso e pouco concentrado, a aglomeração polinucleada, o que propicia o transporte individual, sendo ainda mais pela pouca alternativa em transporte público. Os Planos de Mobilidade do nosso Algarve, PMUS ou PMT tiveram o mérito de colocar a população a discutir estas matérias, e ainda pela condensação de informação, criando um instrumento de planeamento nestas áreas de grande valia. As questões da mobilidade, hoje estão diretamente relacionadas com a melhoria da qualidade de vida das cidades e da inclusão como sociedade. É, portanto, lógico que este saber e conhecimento seja utilizado em função do ordenamento do território e vice-versa, ou seja, que este seja também influenciado pela mobilidade.
O Algarve poderá ter necessidade de tomar as rédeas do seu desenvolvimento, criando ligações entre as autarquias e entendimentos que não dependam do Governo Central, e assim criar as soluções alternativas que a região carece.
Espaços de fronteira
O Algarve possui um caráter importante de internacionalização, pelo que, será relevante dignificar os espaços de fronteira, seja esta aeroportuária (importante obra já realizada), como pela Via do Infante, como entrada terrestre, ou de comboio, praticamente inexistente. Uma entrada digna é sempre uma boa receção, e ela deverá ser aprimorada, ainda por cima de uma região que depende do turismo.
Os espaços intermodais são também pontos de fronteira, mas de diversos modos de transporte. Porém, quantos centros ou pontos temos no Algarve desta natureza? Poucos e sem grandes conexões. O Algarve como região económica e com forte identidade, não poderá ficar à margem destas decisões.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Outubro)