Até ao dia 6 de janeiro de 2019, pode ser visitada no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, a exposição “Anish Kapoor: Obras, Pensamentos, Experiências”.
A obra escultórica criada por Kapoor tem sido concebida a uma escala de grandes dimensões, em ambientes urbanos, como sejam Londres ou Nova Iorque, ou em jardins formais, como sejam os Jardins de Kensington, em Inglaterra, ou o Palácio de Versalhes, em França.
No caso da exposição em Serralves, foram selecionados trabalhos representativos da linguagem escultórica de Kapoor, para a qual a materialidade, a escala, o relacionamento com a arquitetura, a paisagem e o observador são fatores constitutivos.
Uma das obras expostas, “Sky Mirror” (“Espelho do céu”), é constituída por um espelho côncavo de aço inoxidável que, segundo Kapoor, “obriga os observadores a entrarem no domínio da própria peça”, para a poderem experienciar na sua totalidade, refletindo o local onde está exposta, numa espécie de trazer “o céu à terra”.
As obras de grande dimensão expostas nos jardins de Serralves, contrastam com as 56 maquetas de projetos que se encontram no interior do Museu. Estes projetos foram concebidos por Kapoor nos últimos quarenta anos, alguns não executados, remetendo para a escala íntima do ateliê do artista, como espaço de pensamento e de experimentação.
Este artista considera a grande dimensão que têm as suas obras como “parte da linguagem da escultura, essencial para envolver fisicamente o espetador”. A dimensão da obra produzida implica sair da “zona de conforto” em termos percetivos, repensando os objetos e a sua relação com o mundo.
Efetivamente, a mudança de escala dos objetos artísticos é um fator que permite alterar a sua perceção e o efeito emocional que estes podem ter sobre o espetador.
A perceção tem sido um domínio estudado pela Psicologia há mais de 100 anos, desde as experiências de Werteimer em 1912. Aspetos como o movimento dos objetos ou a forma como se relacionam no espaço têm influência sobre a perceção dos mesmos pelo espetador. Isto, porque a perceção é subjetiva e dinâmica, reconstruindo ela própria os objetos percecionados pelo sujeito.
A dimensão é assim uma variável que pode ser explorada na produção artística para aferir o impacto percetivo e emocional das obras de artes visuais.
O aproveitamento do impacto da obra criada pela dimensão da mesma tem sido usado por vários artistas contemporâneos. É o caso de Joana Vasconcelos, conhecida internacionalmente pelas suas obras em grande dimensão, feitas com objetos da vida quotidiana. Objetos que habitualmente passam despercebidos ao mundo da perceção artística, mas que Joana Vasconcelos integra em grandes quantidades, dando-lhes um sentido simbólico e permitindo que “o todo seja mais do que a mera soma das partes”.
Neste momento, está a decorrer a exposição “I’m your mirror” de Joana Vasconcelos, no Museu Guggenheim, em Bilbao. Nesta exposição, são apresentadas 35 obras de Joana Vasconcelos, sendo 14 novas e as restantes obras produzidas pela artista desde 1997, ano em que também foi inaugurado o Museu Guggenheim, em Bilbao.
Assim, para além das peças mais icónicas como “A Noiva”, um candelabro feito com tampões, ou “Marilyn”, um par de sapatos de salto alto feito com panelas, Joana Vasconcelos apresenta também várias novas criações. Nomeadamente, a obra que dá o título a esta exposição, “I’m your mirror” (“Sou o teu espelho”), uma enorme máscara veneziana, feita com 231 molduras em bronze e duplo espelho, com um peso aproximado de 2,5 toneladas. O título desta exposição remete precisamente para a importância da perceção subjetiva do espetador no presente ao apreciar obras de arte.
Joana Vasconcelos é provavelmente a artista portuguesa com maior reconhecimento internacional, tendo em 2013 representado oficialmente Portugal na Bienal de Arte de Veneza.
A exposição “I’m your mirror” de Joana Vasconcelos ficará patente em Bilbau até ao dia 11 de novembro.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Setembro)